São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

A encruzilhada

BRASÍLIA - José Sarney não dá ponto sem nó. Se está em campanha tão aberta pela presidência do Senado, só há uma explicação: ele tem a agulha e a linha na mão. Ou seja: a garantia do apoio de Lula.
A operação, porém, é arriscada. O PMDB é cheio de votos na Câmara e no Senado, e o novo governo precisa de maioria para ter um mínimo de tranquilidade. Driblar regras para ajudar Sarney significa abrir guerra contra o outro lado peemedebista.
Na Câmara, apesar dos pesares, está praticamente certo que o novo presidente será o petista João Paulo Cunha (SP), e não há bloco de PFL e PSDB que evite isso. Aliás, nem vontade. A questão é o Senado, onde a divisão do PMDB é mais evidente.
Renan Calheiros (PMDB-AL) tem a maioria na bancada do partido, e Sarney tem a maioria no plenário. A tradição parlamentar de que a bancada indica o presidente favorece Renan, mas o PT quer dar um jeitinho de apoiar um nome do partido majoritário -que é Sarney- independente do apoio ou não da bancada.
É provável que, enquanto trabalhem para eleger Sarney, Lula e o PT tentem adoçar o PMDB de Renan com promessas de cargos. Mas Renan não é nenhum neófito e tem lá seus trunfos, além do apoio da bancada. Dois deles: a ameaça de ir para a oposição (o que é improvável) e uma súbita guinada pela permanência do atual presidente, Ramez Tebet.
Sarney pode ser um problema para Lula, se quiser fazer uma aliança com ACM para negociar com o Planalto e, de quebra, cavucar o governo FHC. E Renan também pode se tornar um problemão se quiser usar o cargo para pressionar o governo Lula. Tebet, ao contrário, não está se valendo da cadeira para negociar nada para o PMDB.
Sarney é favorito, mas Lula e o PT têm de ter muito cuidado para não tumultuar o processo parlamentar. Depois da eleição dos presidentes vêm as votações de projetos e reformas. Qualquer erro agora abre caminho para o desastre na próxima esquina -que é a que mais importa.


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