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ELIANE CANTANHÊDE
A encruzilhada
BRASÍLIA - José Sarney não dá ponto
sem nó. Se está em campanha tão
aberta pela presidência do Senado, só
há uma explicação: ele tem a agulha
e a linha na mão. Ou seja: a garantia
do apoio de Lula.
A operação, porém, é arriscada. O
PMDB é cheio de votos na Câmara e
no Senado, e o novo governo precisa
de maioria para ter um mínimo de
tranquilidade. Driblar regras para
ajudar Sarney significa abrir guerra
contra o outro lado peemedebista.
Na Câmara, apesar dos pesares, está praticamente certo que o novo presidente será o petista João Paulo Cunha (SP), e não há bloco de PFL e
PSDB que evite isso. Aliás, nem vontade. A questão é o Senado, onde a
divisão do PMDB é mais evidente.
Renan Calheiros (PMDB-AL) tem
a maioria na bancada do partido, e
Sarney tem a maioria no plenário. A
tradição parlamentar de que a bancada indica o presidente favorece Renan, mas o PT quer dar um jeitinho
de apoiar um nome do partido majoritário -que é Sarney- independente do apoio ou não da bancada.
É provável que, enquanto trabalhem para eleger Sarney, Lula e o PT
tentem adoçar o PMDB de Renan
com promessas de cargos. Mas Renan
não é nenhum neófito e tem lá seus
trunfos, além do apoio da bancada.
Dois deles: a ameaça de ir para a
oposição (o que é improvável) e uma
súbita guinada pela permanência do
atual presidente, Ramez Tebet.
Sarney pode ser um problema para
Lula, se quiser fazer uma aliança
com ACM para negociar com o Planalto e, de quebra, cavucar o governo
FHC. E Renan também pode se tornar um problemão se quiser usar o
cargo para pressionar o governo Lula. Tebet, ao contrário, não está se valendo da cadeira para negociar nada
para o PMDB.
Sarney é favorito, mas Lula e o PT
têm de ter muito cuidado para não
tumultuar o processo parlamentar.
Depois da eleição dos presidentes
vêm as votações de projetos e reformas. Qualquer erro agora abre caminho para o desastre na próxima esquina -que é a que mais importa.
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