São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Os FX e os gastos militares
CESAR MAIA
Em nível internacional, o que vemos é um amplo debate sobre duas macroalternativas de estratégia militar. De um lado, os Estados Unidos, de Bush, inaugurando o que chamam de prevenção ativa, ou seja, o direito de intervir militarmente em qualquer parte para prevenir o que imaginam esteja ou estará acontecendo numa região ou país. Do outro lado, o sistema estabelecido pela tradição contemporânea de dissuasão. A dissuasão se dá em dois campos: no diplomático, sempre, mas também no campo militar. Estabelecem-se internacionalmente, de forma progressiva, limites ao armamentismo, especialmente ao uso de armas nucleares. Mas isso não significa a renúncia dos países à atenção às suas autodefesas, às suas soberanias. Do contrário, dada a atual correlação de forças militares, cada país, no limite, deveria sempre contar com um "país cobertor". Raciocinando por absurdo, qual seria o nosso? Os Estados Unidos? A Inglaterra? A China? A Rússia? A França? A dissuasão, diferentemente do que muitos ingênuos imaginam, para ser diplomaticamente eficaz precisa dar garantias de equilíbrio militar em relação a pontos potencialmente nervosos. Não há dissuasão diplomática, pelo menos por enquanto, sem referência militar. A capacitação militar não se restringe ao acesso a equipamentos -armas, veículos, navios ou aviões. Ela é, basicamente, a capacitação dos recursos humanos. Mas esta capacitação se dá, também e principalmente, com o uso dos equipamentos mais modernos. Não serão os simuladores que resolverão isso. Nem o mero acesso aos equipamentos em outros países -que é necessário, mas não suficiente, seja para treinamento técnico, seja para treinamento em operações conjuntas. Isso por uma razão básica: o treinamento em bases de outros países tem um componente ideológico e afeta a soberania nacional. Era a própria esquerda que dizia isso, nos anos 60 e 70. Atrasar a compra dos FX para um país que só tem aviões interceptadores de teco-teco não é uma questão financeira. Significa um atraso de, pelo menos, uma década na capacitação soberana de pessoal. Se o argumento é financeiro, que se volte atrás logo, pois temos aí um absurdo equívoco de graves consequências. Se o argumento é estratégico, que se abra o debate com franqueza, pois esta não é uma questão de governo, mas de Estado. No mínimo, as comissões de Defesa do Congresso Nacional devem abrir o debate e convocar os ministros e estrategistas do governo federal, da sociedade e das Forças Armadas. Urgente! Cesar Maia, 57, economista, é prefeito, pelo PFL, do Rio de Janeiro. Foi prefeito da mesma cidade de 1993 a 1996. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Arnaldo Niskier: De Colombo a Buarque Índice |
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