São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES De Colombo a Buarque
ARNALDO NISKIER
O presidente Lula criticou os índices baixíssimos da educação brasileira: "Não basta dizer que todas as crianças estão na escola, é preciso dizer qual é a qualidade de ensino que elas têm". Outro ponto crucial foi lembrado pelo ministro Antonio Palocci, quando se referiu à "pesada herança" recebida: "Apenas 20% dos jovens de 15 a 17 anos estão no ensino médio, e 8% dos jovens de 18 a 24 anos estão no ensino superior. Um dos índices mais baixos da América Latina. Atualmente, 70% dos trabalhadores adultos têm ensino fundamental completo. Faz-se necessário aumentar o grau de escolaridade média da população, hoje na vergonhosa faixa de quatro anos". É preciso dizer mais? Como se vê, a orquestra do maestro Lula começa a tocar de forma bastante afinada, com o ministro Cristovam Buarque fazendo o papel de spalla na condução do setor de maior relevo da máquina governamental. Ele não vai destruir acertos pontuais da herança recebida, como é o caso da avaliação instalada, que, de todo modo, precisa ser aperfeiçoada. Tem, no entanto, a missão de cuidar das universidades federais praticamente a partir do ponto zero. Elas nunca foram tão desconsideradas como nos últimos oito anos, até mesmo com provocações gratuitas, como foi o caso da escolha preferencial de reitores menos votados. Simples provocação ou, o que é pior, um malfadado exercício de arrogância? Algumas armadilhas, como a redução programada dos recursos para a educação, terão de ser dribladas. Dos R$ 8 bilhões de 2002 (62% gastos com o ensino superior, com resultados pífios), o novo governo contará com apenas R$ 7 bilhões. Mágicas são proibidas no serviço público. É preciso dar um alento expressivo a professores, técnicos, alunos e funcionários das 53 instituições federais de ensino. Sobreviveram heroicamente ao período anterior e, para sorte nossa, não deixaram cair o prestígio da nossa pesquisa científica e tecnológica, basicamente realizada nas universidades federais. A questão que certamente merecerá reflexão acurada do novo MEC é o Conselho Nacional de Educação, que foi claramente subutilizado. Dividido em duas câmaras (Educação Superior e Educação Básica), teve uma ação desbalanceada, ficando os serviços burocráticos, na proporção de 80%, sob responsabilidade da primeira das câmaras citadas. O órgão deve ser revisto, até para que não fique só na autorização, credenciamento e reconhecimento de cursos superiores, o que lhe dá características que provocam críticas sucessivas. Como conselho, deve ajudar o ministro a pensar as reformas, as mudanças; órgão normativo que é. Aliás, lembro que, numa conferência feita no antigo Conselho Federal de Educação, em 1998, quando instado a dizer o que era modernidade, o educador Cristovam Buarque sintetizou de forma admirável o seu pensamento: "Modernidade é botar todas as crianças numa escola de qualidade. E ter os professores com bons salários". Parecia que estava mesmo adivinhando. Estamos muito esperançosos de que a avaliação da educação brasileira deixe de ser "muito ruim", como afirmaram os renomados mestres Maria Yeda Leite Linhares e Muniz Sodré, para se transformar em "muito boa". Só assim poderemos imaginar um grande e competitivo país. Arnaldo Niskier, 67, educador, membro da ABL (Academia Brasileira de Letras) e conselheiro do Instituto Metropolitano de Altos Estudos, é autor de "Shach: as Lições de um Sábio" (Edições Consultor). Foi presidente da ABL (1998-99) e secretário estadual de Ciência e Tecnologia (1968-71) e de Educação e Cultura (1979-83) do Rio de Janeiro. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Cesar Maia: Os FX e os gastos militares Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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