São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2004 |
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IGOR GIELOW Que planeta?
BRASÍLIA - Um marciano aterrissou no Brasil ontem com a missão de avisar que seu governo, invocando o
princípio da reciprocidade, enviará
jipinhos e sondas para cá. Desejando
saber com quem lidava, decidiu se inteirar do noticiário da semana.
De cara, viu que vivemos no melhor
dos mundos. Duas reuniões ministeriais para anunciar que agora vai. C-Bond vendido com ágio, risco-país no
chão. O BC mete a mão no mercado
de câmbio e o dólar não estoura.
E o brasileiro demonstra ao mundo
sua altivez. O governo surfou, apoiado na noção de que o povão adora
ver americano tocar piano, numa decisão de instância inferior e virou tema de entrevista coletiva do Colin
Powell. Com direito a telefonema!
Haja coragem dessa bugrada, pensou o marciano. O fato de o jornal
""The New York Times", o mais importante do mundo, ter citado que
Powell colocou o Brasil ao lado de
Coréia do Norte e Sudão como países
que "atormentam" os EUA é motivo
de orgulho. Qualquer outra leitura
disso é coisa de gente colonizada.
Mas aí o quadro ficou turvo. Ele
não entendeu bem a história de uma
migração de fortunas para fundos
cambiais, que há dois anos seria alvo
da estridência da combativa bancada petista. Nem captou o que o governo quer das agências reguladoras.
Enquanto isso, partidos e ministros
prometem até a Segunda Vinda para
ficar com um cargo. E, sob ameaça de
um conflito armado, uma capital de
Estado passou a semana sitiada.
Confuso, o marciano voltou para
casa incógnito. Achou prudente esperar um pouco para ver em que planeta exatamente está pisando.
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