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CARLOS HEITOR CONY
É a guerra!
RIO DE JANEIRO - Reconheço o mau gosto. Mas, quando escrevo para jornais e, às vezes, para mim mesmo,
uso palavras ou frases em outra língua, sobretudo a latina, na qual me
eduquei e, na maioria das vezes, é a
que melhor expressa o que estou pensando ou sentindo.
Há autores que usam o inglês ou o
francês, tudo bem. Há determinadas
coisas que só podem ser expressas em
um idioma, e não em outro. Como
traduzir "sine die" ou "c'est la guerre"? A simples transposição nominal
não basta.
Uma leitora reclamou de artigo em
que citei Aristóteles em latim, lembrando que todo o agente "agit propter finem", age por causa de um fim.
Argumentando que Aristóteles não
falava nem escrevia em latim, ela exigia que eu fizesse a citação em grego.
Acontece que o alfabeto grego é diferente do latino, que predomina na
maioria dos países ocidentais. Uma
citação em grego requer reprodução
especial, utiliza alfabeto próprio, o
mesmo se dando com o hebraico, o
russo e outros idiomas orientais. Nem
todos os equipamentos gráficos dispõem de fontes contendo o alfa, o beta, o gama, delta etc.
O mesmo se dá com os textos bíblicos, escritos originalmente em diversas línguas, mas que chegaram até
nós pela versão de são Jerônimo, que
é latina. Cristo falava em aramaico
(ou, segundo alguns, em dialeto próximo ao aramaico) Do alto da cruz,
ele disse suas últimas palavras: "Consumatum est". Evidente que não falou em latim.
Citando Cristo, outro dia terminei
um artigo na Ilustrada lembrando o
"misereor super turbam". Leitores reclamaram, queriam a tradução, citar
em latim já passou de moda, somente
advogados de província ainda o fazem.
Sei que contrario os manuais da redação de todo o mundo, eles exigem
clareza e objetividade, os leitores merecem entender o que estão lendo.
Com o devido respeito aos manuais e
aos leitores, continuo apelando para
citações que considero intraduzíveis.
"C'est la guerre!".
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