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ELIANE CANTANHÊDE
Luto
BRASÍLIA - O Exército, encampado pelo vice-presidente e ministro da
Defesa, José Alencar, tem resistido o
quanto pode à versão de que o general Urano Bacellar se suicidou com
um tiro na boca em pleno comando
da missão de paz no Haiti.
É verdade que mortes em geral, e
essa muito especialmente, têm de ser
apuradas ao máximo até não haver
nenhuma sombra de dúvida. Mas tudo indicou, desde o início, que se tratava de suicídio.
Contra fatos e contra laudos internacionais detalhados não há argumento, e o que se pode deduzir é que
não é aceitável para as Forças Armadas que oficiais generais se matem
nem sintam suas "dores de alma".
Pode acontecer em qualquer região
do mundo, em qualquer profissão,
em qualquer família, mas, para o
Exército, foi um golpe duríssimo. Generais se matando não é algo comum, muito menos num comando
com exposição internacional.
É como se algo tivesse quebrado,
porque um general é treinado para
missões árduas, situações adversas de
toda ordem, distância da família, isolamento, pressão e, afinal, bombardeios e mortes. São duros, frios, profissionais. Mas, antes de ser um oficial afável e prestigiado entre os colegas, o general era uma pessoa. Ponto.
Essa tragédia, que é mais pessoal do
que qualquer outra coisa, se transformou numa questão diplomática e
política: chamou a atenção internacional para a situação dramática e
crônica do Haiti e revolveu as intensas discussões sobre a oportunidade
ou não de o Brasil se aventurar num
comando de tropa num país que nem
português fala.
O Brasil aproveita para cobrar
mais dinheiro e mais apoio no Haiti,
como o chanceler Amorim deverá fazer hoje com o enviado especial da
Casa Branca Thomas Shannon.
Bacellar, cujo corpo deve chegar hoje e ser enterrado amanhã, pode, sem
querer, ter feito mais pelo Haiti morto do que poderia fazer vivo. O Exército não precisa se envergonhar. Pessoas são pessoas, de farda ou não.
@ - elianec@uol.com.br
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