São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Editoriais

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Haja perdão

UMA BOA dose de paciência, e até de bom humor, é necessária ao cidadão que acompanha alguns episódios do noticiário político. Graves irregularidades acabam por assumir um aspecto folclórico, e a caricatura toma conta da realidade.
Abandonada a famosa justificativa dos panetones para a população carente -teria sido para comprá-los que o governador do DF, José Roberto Arruda, embolsou dinheiro vivo num vídeo de repercussão nacional-, o personagem volta à cena.
Declara, num evento público, que "perdoa" aqueles "que o agrediram". Só assim, continuou, "eu posso também pedir perdão dos meus pecados".
Não é a primeira vez, como se sabe, que Arruda apela à generosidade da população. Em 2001, da tribuna do Senado, depois de alguns dias jurando inocência no caso da violação do painel eletrônico, admitiu a participação no escândalo e, emocionado, pediu perdão pelo que fez.
Seria o caso de dizer que agora a história se repete como farsa; mas de farsa já se tratava no primeiro episódio -e as novas desculpas de Arruda mais parecem assemelhar-se a alguns sambas e boleros do passado, em que maridos incorrigíveis e boêmios contumazes prometem à mulher, com muita ginga e humildade, emendar-se da próxima vez.
A vontade é de desligar a velha radiovitrola -mas a política de Brasília não dá sossego. Veja-se o caso das passagens aéreas.
No auge do escândalo, a mesa do Senado determinou que não mais se acumulassem de um ano para outro as cotas dos senadores. A medida foi revogada em dezembro. Como se não bastasse, Senado e Câmara registram aumento nos gastos com horas extras de funcionários em 2009. Haja perdão para tudo isso.


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