|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Subpaís
SÃO PAULO - Os entendidos dizem que o país precisa crescer 5% para
dar emprego a todos os que anualmente entram no mercado de trabalho. O que significa automaticamente dizer que o formidável estoque de
desempregados continuará do mesmo tamanho. Ou em porcentagem:
com esse crescimento, os 12% que estão no desvio nele continuarão.
Como o crescimento para 2004 não
passará de 4%, segundo algumas expectativas, ou de 3,5%, pelos números do governo, tem-se que a única
coisa que pode acontecer aos já desempregados é ganhar companhia.
Em cima desses números, já tremendos, vem a reportagem de Pedro
Soares, desta Folha, no domingo, para mostrar que, além de desempregados, aumentou também o lote de subocupados e de sub-remunerados,
categorias que provavelmente se superpõem. Os sub-remunerados são
quase 2,3 milhões.
Alguma chance de essa gente sair
do miserê com um crescimento medíocre de 3,5% ou 4%?
Não é tudo: quase seis de cada dez
brasileiros trabalha na informalidade, conforme estudo da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, relatado
nesta Folha, no domingo, por Fátima
Fernandes.
Trabalho informal é o mesmo que
trabalho precário. E trabalho precário é o mesmo que vida precária.
Alguma chance de a vida tornar-se
menos precária com um crescimento
medíocre de 3,5% ou 4%?
É evidente que não se pode culpar o
governo Luiz Inácio Lula da Silva por
todo o desemprego, subemprego, sub-remuneração, subdesenvolvimento,
por esse subtudo que é o Brasil.
Trata-se de fenômeno estrutural,
embora os primeiros 13 meses de Lula
tenham dado sua contribuição para
agravar o problema ao adotar uma
política econômica medrosa e contrária não só às promessas de campanha como ao discurso de posse que
anunciava "mudança". Ponto.
Ou algum dia alguém trata de fazer
de fato mudanças ou o Brasil continuará a ser um subpaís.
Texto Anterior: Editoriais: IMAGEM E CONTEÚDO
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O "Lulão" Índice
|