São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Subpaís

SÃO PAULO - Os entendidos dizem que o país precisa crescer 5% para dar emprego a todos os que anualmente entram no mercado de trabalho. O que significa automaticamente dizer que o formidável estoque de desempregados continuará do mesmo tamanho. Ou em porcentagem: com esse crescimento, os 12% que estão no desvio nele continuarão.
Como o crescimento para 2004 não passará de 4%, segundo algumas expectativas, ou de 3,5%, pelos números do governo, tem-se que a única coisa que pode acontecer aos já desempregados é ganhar companhia.
Em cima desses números, já tremendos, vem a reportagem de Pedro Soares, desta Folha, no domingo, para mostrar que, além de desempregados, aumentou também o lote de subocupados e de sub-remunerados, categorias que provavelmente se superpõem. Os sub-remunerados são quase 2,3 milhões.
Alguma chance de essa gente sair do miserê com um crescimento medíocre de 3,5% ou 4%?
Não é tudo: quase seis de cada dez brasileiros trabalha na informalidade, conforme estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, relatado nesta Folha, no domingo, por Fátima Fernandes.
Trabalho informal é o mesmo que trabalho precário. E trabalho precário é o mesmo que vida precária.
Alguma chance de a vida tornar-se menos precária com um crescimento medíocre de 3,5% ou 4%?
É evidente que não se pode culpar o governo Luiz Inácio Lula da Silva por todo o desemprego, subemprego, sub-remuneração, subdesenvolvimento, por esse subtudo que é o Brasil.
Trata-se de fenômeno estrutural, embora os primeiros 13 meses de Lula tenham dado sua contribuição para agravar o problema ao adotar uma política econômica medrosa e contrária não só às promessas de campanha como ao discurso de posse que anunciava "mudança". Ponto.
Ou algum dia alguém trata de fazer de fato mudanças ou o Brasil continuará a ser um subpaís.


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