São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O vigor e a maturidade do PT

JOSÉ GENOINO

Ao completar 24 anos, o PT agrega duas qualidades que consideramos essenciais na atividade política: o vigor e a maturidade. É um partido vigoroso porque, mesmo após ter chegado ao poder, não deixou e não deixará de receber os influxos das energias ativistas dos movimentos sociais e da juventude. São essas energias que lhe conferem uma dupla capacidade: a da transformação e a da renovação.
No quadro partidário brasileiro, é o PT quem encarna as esperanças e as perspectivas de transformação das realidades social, econômica e política do país. A idéia da transformação é, ao mesmo tempo, necessidade dos movimentos sociais e sonho da juventude. Nós, dirigentes do PT, lutaremos para que essa síntese enérgica do partido não se perca nos meandros do poder, nas imposições do pragmatismo e nas exigências de resultados.


O testemunho inquestionável de que o PT é um partido de esquerda é dado pela sua história pregressa


O PT é um partido maduro porque é composto por uma militância experimentada e calejada nas lutas sociais e políticas e por dirigentes experientes. Essa composição faz do PT um partido responsável perante a sociedade; sereno diante das dificuldades, na busca de objetivos; e arrojado no enfrentamento dos grandes desafios que lhe são postos pela realidade e pelas contingências da vida. Pode-se dizer que o PT se move pelo equilíbrio entre sensatez e ousadia. É essa sabedoria prática e teórica que faz de seu percurso, desde sua fundação até hoje, uma trajetória vitoriosa. Ao chegar à Presidência da República, pináculo do poder, o PT não se acomoda à situação. Pelo contrário, amplia sua força na sociedade, sua organização interna e sua profissionalização. Faz isso sem deixar de incorporar a força que vem da militância e dos movimentos sociais. Isso faz do PT um partido de representação de interesses reais de vários grupos sociais.
O PT alcançou a maturidade também porque compreendeu que não realizará as transformações sozinho. Outros partidos agregam impulsos transformadores. Daí o PT perceber não só o caráter processual das mudanças, mas a necessidade de promover alianças para realizá-las. Para o PT, as alianças não são meros arranjos fundados em interesses fisiológicos. Antes de tudo, as alianças, para os petistas, são expressões de imperativos programáticos. Mas o realismo nos faz reconhecer que nas alianças partidárias estão implicados interesses particulares dos partidos. Seria hipocrisia ou ingenuidade não reconhecer esse fato. A crítica meramente moralista a essa condição perde a perspectiva do interesse público efetivo que está subjacente às alianças.
Por representar os interesses reais de grupos sociais economicamente subalternos, de grupos socialmente excluídos, dos trabalhadores e de setores da classe média, o PT é um partido de esquerda. Também porque o sentido estratégico de sua política se orienta pela luta por mais igualdade, mais direitos e mais cidadania. O testemunho inquestionável de que o PT é um partido de esquerda, democrático e progressista é dado pela sua história pregressa. Na sua origem estão as lutas por direitos trabalhistas, por liberdades políticas, por direitos sociais e contra a carestia.
O PT, junto com outros partidos, lutou pela redemocratização do país, pela anistia, pelas diretas e pela Constituinte. Protagonizou a primeira eleição direta para presidente da República após a redemocratização e foi um dos pólos das disputas políticas e eleitorais ao longo de toda a década de 90. Toda essa experiência o credenciou a chegar à Presidência da República em 2002. Nesse processo, soube manter fidelidade a seus princípios básicos e fundantes e soube renovar-se, acompanhando as exigências novas dos tempos. Com isso, evitou o isolamento e o sectarismo, e não sucumbiu à cooptação das elites.
O PT é um partido de esquerda também porque, onde governa, nas prefeituras, nos Estados e agora na Presidência da República, governa para todos, mas priorizando políticas que promovem os menos favorecidos, os mais pobres. É esse o sentido de programas como o Fome Zero, o Bolsa-Família e inúmeros outros programas sociais e redistributivos que proliferam nos governos petistas. O PT é um partido democrático de esquerda porque faz da ampliação da participação da sociedade nas decisões do poder ou no controle do Estado um campo de batalha. É esse o sentido do Orçamento Participativo e da criação de inúmeros conselhos com participação social nas várias esferas de governo.
A democracia petista se expressa, ainda, no seu pluralismo interno, no respeito à liberdade de opinião, na observância dos estatutos e no espírito de disciplina e unidade partidárias. A agregação do petismo é produto de um conteúdo e da forma organizativa. É isso que faz do PT um partido democrático e forte. O livre debate consolida posições majoritárias. As regras estatutárias garantem tanto o livre debate quanto a legitimidade e a efetividade das posições majoritárias. Liberdade e disciplina é uma síntese paradoxal da força dos partidos políticos.

José Genoino, 57, é presidente nacional do PT.


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