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RUY CASTRO
Paris de Roberto
RIO DE JANEIRO - Era a Paris do
pós-Guerra, regada a existencialismo, jazz, heroína e, de vez em quando, uma orgia -a Paris de Sartre, De
Beauvoir, Jacques Prévert, Boris
Vian e outros que ficam na geladeira do Éléphant Blanc. Era onde o
mundo queria morar.
Pois, nesse elenco de milhões, lá
estavam, em alguma época entre
1949 e 1953, brasileiros como Vinicius de Moraes, Di Cavalcanti, Guimarães Rosa, a jovem Danuza Leão,
o paisagista Burle Marx, o filólogo
Celso Cunha, o repórter Justino
Martins, o estudante Ivo Pitanguy,
o ator Haroldo Costa, o balé Brasiliana, as modelos (de Chanel) Vera
Barreto Leite e Mimi de Ouro Preto
e muitos mais. Um dia, todos voltariam à taba para civilizar os nativos.
Mas, antes disso, precisaram de
alguém que os civilizasse em Paris.
Esse alguém existiu, na pessoa do
carioca Roberto Assumpção, secretário da Embaixada do Brasil naquele período. Roberto era mais
que um diplomata platônico, afiado
nas questões do métier. Era um intelectual ativo. Graças a ele, o Itamaraty publicou, em 1946, suas tábuas da lei: a obra completa, em dez
volumes, do barão do Rio Branco.
Em Paris, Roberto fez muito pela
arquitetura e pela poesia brasileira,
pondo-as ao alcance dos franceses.
Mas o que mais fez foi abrir a velha
cidade e seus novos segredos aos
brazucas de passagem. Segredos
que, na volta, eles processariam em
arte, atitude ou comportamento,
mudando com isso a face do Rio,
cuíca do Brasil.
Depois, como embaixador, Roberto serviria em Moscou, Argel,
Praga, Damasco, Bagdá, Nova Déli e
Katmandu. Mas é curioso como, até
outro dia, em seu apartamento no
edifício Chopin, no Rio, ainda se
respirava aquela atmosfera de Paris
-e com a presença de algum remanescente.
Roberto morreu no Rio, há uma
semana, aos 91 anos.
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