São Paulo, sábado, 10 de março de 2007

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RUY CASTRO

Paris de Roberto

RIO DE JANEIRO - Era a Paris do pós-Guerra, regada a existencialismo, jazz, heroína e, de vez em quando, uma orgia -a Paris de Sartre, De Beauvoir, Jacques Prévert, Boris Vian e outros que ficam na geladeira do Éléphant Blanc. Era onde o mundo queria morar.
Pois, nesse elenco de milhões, lá estavam, em alguma época entre 1949 e 1953, brasileiros como Vinicius de Moraes, Di Cavalcanti, Guimarães Rosa, a jovem Danuza Leão, o paisagista Burle Marx, o filólogo Celso Cunha, o repórter Justino Martins, o estudante Ivo Pitanguy, o ator Haroldo Costa, o balé Brasiliana, as modelos (de Chanel) Vera Barreto Leite e Mimi de Ouro Preto e muitos mais. Um dia, todos voltariam à taba para civilizar os nativos.
Mas, antes disso, precisaram de alguém que os civilizasse em Paris. Esse alguém existiu, na pessoa do carioca Roberto Assumpção, secretário da Embaixada do Brasil naquele período. Roberto era mais que um diplomata platônico, afiado nas questões do métier. Era um intelectual ativo. Graças a ele, o Itamaraty publicou, em 1946, suas tábuas da lei: a obra completa, em dez volumes, do barão do Rio Branco.
Em Paris, Roberto fez muito pela arquitetura e pela poesia brasileira, pondo-as ao alcance dos franceses. Mas o que mais fez foi abrir a velha cidade e seus novos segredos aos brazucas de passagem. Segredos que, na volta, eles processariam em arte, atitude ou comportamento, mudando com isso a face do Rio, cuíca do Brasil.
Depois, como embaixador, Roberto serviria em Moscou, Argel, Praga, Damasco, Bagdá, Nova Déli e Katmandu. Mas é curioso como, até outro dia, em seu apartamento no edifício Chopin, no Rio, ainda se respirava aquela atmosfera de Paris -e com a presença de algum remanescente.
Roberto morreu no Rio, há uma semana, aos 91 anos.


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