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FERNANDO GABEIRA
The book is on the table
O ENCONTRO Bush-Lula precisa ajustar alguns desequilíbrios. Como os casais, de
vez em quando, é preciso discutir a
relação. Será que nossa parceria na
produção de etanol é uma proposta
além do petróleo? Se fosse, não estaríamos discutindo apenas como
tornar o álcool mercadoria internacional. Estaríamos discutindo
também as cláusulas sociais e ambientais desse processo.
Da parte de Bush, sou pessimista
quanto ao salto para além do petróleo. Ele queria explorá-lo no Alasca. Nem sequer assinou o Protocolo de Kyoto. Está profundamente
ancorado na fase da história que se
esgota.
No caso do nuclear, temos que
discutir. O Brasil faz tudo direito.
Defende e respeita o Tratado de
Não-Proliferação. Foi um dos primeiros países do mundo a adotar
as restrições da ONU ao Irã.
Bush acaba de lançar uma nova
geração de ogivas nucleares. Fez
acordo com a Índia, dentro de sua
política "good boys podem, bad
boys não podem". O que vemos
com essa ambigüidade é a Rússia
tentando modernizar seu arsenal,
e a China aumentando em quase
20% suas despesas nucleares. Estamos remando contra a corrente?
Se vamos ao Haiti, então, vemos
o Brasil fazer tudo certo. Nossas
tropas trouxeram uma paz possível
e instável ao Haiti, controlando os
focos de tensão em Bel Air e agora
em Cité Soleil. Mas, sem verbas para recuperar o país, os esforços vão
se perder.
O aquecimento global pode jogar
milhares de "boat people" na costa
americana. Será que Bush não percebe que num país devastado ecologicamente como o Haiti há uma
bomba social a ser desarmada?
Uma das únicas decisões importantes de Bush é ampliar o ensino
de inglês. Países como o Chile e a
China consideram isso tão positivo
que o tornam uma política nacional.
Houve um tempo em que os
americanos enviavam Louis Armstrong ou o Modern Jazz Quartet
correr o mundo. Logo, não ignoram o potencial do softpower, da
influência através de seus valores
éticos e culturais.
Isso poderia ser um fermento
para o encontro dos presidentes.
Não é apenas um recurso natural, o
petróleo, que começa a declinar. É
toda uma visão de mundo. Plantadores de milho acham que os EUA
devem taxar nosso álcool porque
estamos adiantados no setor. Vão
privar seus consumidores de nossos avanços como um dia tentamos
privar os nossos dos avanços americanos na informática?
Bom aprender inglês, para mostrar que falamos línguas diferentes, num mundo nuclearmente armado, potencialmente aquecido,
socialmente explosivo, carente de
uma diplomacia preventiva para
competir com ogivas e canhões.
assessoria@gabeira.com.br
FERNANDO GABEIRA escreve aos sábados nesta coluna.
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