São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

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AGENDA POSITIVA

O ministro Luiz Gushiken considerou, em audiência com a Federação Nacional dos Jornalistas, que o papel da imprensa deveria ser mais o de perseguir uma "agenda positiva" do que "exploração do contraditório, que fomenta discórdias e conflitos de egos".
Ninguém pode retirar do ministro o direito de opinar sobre o que quer que seja. No caso, porém, o titular da pasta da Comunicação parece ter perdido uma boa oportunidade para manter-se em silêncio.
As declarações acabaram soando como se fossem uma tentativa de uma autoridade pública de indicar qual o caminho deve ser seguido pelos meios de comunicação -evidentemente, aquele que se mostra mais conveniente para o poder.
É no mínimo estranho que alguém, como o ministro, ligado a um partido que se empenhou na conquista de liberdade de expressão pense dessa maneira. Também sob o regime militar, acreditaria Gushiken que o papel da imprensa deveria ter sido o de apenas se preocupar com a "agenda positiva"?
É até compreensível que alguém que ocupe a posição do ministro possa sentir algum desconforto com críticas e notícias sobre fatos eventualmente negativos para o governo. Não é função, porém, da imprensa dourar a pílula -ao contrário, aliás, da propaganda governamental, que de tanto querer divulgar a "agenda positiva" acabou até mesmo por mostrar imagens inverídicas na TV.
Quanto à idéia de que a mídia "fomenta discórdias e conflitos de egos", é insustentável. Há razões de sobra -muitas delas infelizmente nada nobres- para que políticos ligados ou não ao governo entrem em conflito e queiram impor suas vaidades. Não é preciso nenhum impulso da imprensa para que isso ocorra.


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