São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARMA CONTRA O CRIME

O drástico empobrecimento da sociedade argentina, fruto de uma crise econômica sem precedentes, vai produzindo efeitos deletérios nas mais diversas áreas, entre elas a de segurança.
Tradicionalmente mais educada e mais homogênea, em termos socioeconômicos, do que o Brasil, a Argentina sempre se viu e foi vista como o mais "europeu" dos países da América do Sul. Com o desmoronamento de sua economia, os argentinos vão agora conhecendo mais de perto alguns dos antigos dramas de seus países vizinhos. Entre eles, está a dramática realidade da desigualdade que se traduz em violência.
Há uma semana, cerca de 130 mil pessoas foram às ruas de Buenos Aires exigir medidas para deter a criminalidade. Como costuma ocorrer nesses momentos de comoção, a demanda da sociedade e as respostas dos governantes foram numa única direção: criar leis e penas mais duras.
Esse processo tem ocorrido no Brasil de maneira exemplar. A cada onda de delitos mais chocantes, elevam-se os clamores para a adoção de penalidades mais rigorosas. Se o crime é de seqüestro, pedem-se leis as mais rigorosas contra os seqüestradores. Se é cometido por um menor, que se altere o quanto antes a maioridade penal. Se o problema são as drogas, que o tráfico seja considerado crime hediondo e inafiançável.
É compreensível que a sociedade assim reaja, amedrontada pela escalada da violência. A triste realidade, porém, é que essa "legislação de pânico" com freqüência serve mais para amainar as pressões dos cidadãos de bem do que para mudar a rotina do crime. Não há dúvida de que uma polícia mais bem preparada, um Judiciário mais ágil, leis adequadas e um sistema prisional eficiente são elementos indispensáveis para enfrentar a criminalidade. Certo, no entanto, como evidencia a deterioração do quadro no país vizinho, é que para vencer esse combate ainda não foram inventadas armas melhores do que emprego e distribuição de renda.


Texto Anterior: Editoriais: AGENDA POSITIVA
Próximo Texto: São Paulo - Marcos Augusto Gonçalves: O custo-bravata
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.