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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
O custo-bravata
SÃO PAULO - A dialética esquerda X direita no interior do PT tem empurrado a corrente principal do partido
para compromissos cada vez mais
conservadores.
Foi o pólo da esquerda, cujo discurso a direita do partido administrou
de acordo com suas conveniências
nos tempos de oposição, que deu o
pretexto para a crise de confiança pré
e pós-eleitoral. As bravatas a que se
referiu o presidente Lula eram a expressão retórica desse "esquerdismo"
instrumentalizado, que pregava a
ruptura com tudo-isso-que-aí-está.
E foi em boa medida por conta da
crise que as opções da política econômica se estreitaram. Num quadro em
que, descartada a ruptura, medidas
tradicionais se impunham, a área
econômica viu-se compelida a pagar
o "custo-bravata" com redobrados
esforços para adquirir credibilidade.
Perdeu-se um ano sem crescimento
em demonstrações de valentia conservadora para simplesmente controlar o vendaval das incertezas. A pergunta que se faz agora -e não é casual que uma pequena batalha venha sendo travada em torno da política econômica- é se é isso mesmo
ou se a custosa conquista de credibilidade servirá de base para mudanças.
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo publicou um texto no qual prevê que essa dinâmica, por ele classificada como "o paradoxo da credibilidade", tenderá para o aprofundamento das opções conservadoras.
É o que estamos assistindo. É verdade que a lentidão com que os resultados relativos ao crescimento vão aparecendo favorece contestações, como
o manifesto econômico do PT. A resposta é associar a crítica ao esquerdismo bravateiro de outros tempos e
reafirmar os compromissos conservadores. É uma opção também paradoxal por estar sendo gerida por quem
deveria reformulá-la.
Mas isso preocupa menos do que o
fato de que algumas opiniões respeitáveis consideram-na condenada ao
fracasso.
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