São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

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PRIMEIRA AVALIAÇÃO

Pesquisa Datafolha publicada na edição de hoje revela que a população de São Paulo não está satisfeita com os primeiros três meses da nova administração municipal. Apenas 20% consideraram que o prefeito José Serra (PSDB) teve desempenho ótimo ou bom no início de sua gestão, enquanto 37% avaliaram a administração como ruim ou péssima. Com os mesmos três meses de mandato, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) colheu resultados melhores: 34% de ótimo ou bom e apenas 14% de ruim e péssimo.
Quando questionados diretamente acerca do desempenho de Serra em relação ao de Marta, 35% dos paulistanos julgam a atual administração melhor do que a anterior e 39% fazem a avaliação inversa.
É razoável supor que esse resultado sofrível esteja associado à frustração de expectativas criadas ao longo da campanha eleitoral, como a eliminação imediata das taxas municipais e a extensão do bilhete único para o metrô. A elevação da tarifa de ônibus é outro fator que presumivelmente exerceu influência sobre a avaliação.
A imagem pessoal de Serra também parece ter sido afetada pela percepção negativa de sua administração. O atual prefeito é visto como menos trabalhador e decidido do que era Marta à mesma altura do mandato. O paulistano julga ainda o prefeito do PSDB mais antipático, falso e antiquado do que considerava a ex-prefeita. Ao que tudo indica, os esforços do prefeito para "desconstruir" a gestão anterior não vêm surtindo os efeitos esperados. É curioso que algumas das características pessoais atribuídas a Serra, nas quais ele agora se sai pior do que Marta, foram apontadas como decisivas para sua convincente vitória sobre a petista.
É claro que três meses é um período muito curto para permitir uma apreciação razoável da administração. Com 90 dias, o prefeito e seus secretários apenas começam a se inteirar da real situação. Isso é ainda mais verdadeiro no contexto de caos administrativo e financeiro que Marta legou a seu sucessor.
Nenhum desses elementos, porém, elimina a sensação de que Serra chegou à prefeitura sem um projeto para a cidade, abandonou os programas da gestão anterior e passou muito tempo queixando-se da ex-prefeita. Essa impressão generalizada de que falta um rumo para a nova prefeitura também poderia ser um dos motivos que contribuem para o mau juízo que mereceu dos paulistanos.
Todavia, embora tenha de ser levada em conta, a má avaliação está longe de representar um problema irremediável para o prefeito. Se Serra justificar sua reputação de bom administrador público, terá todas as condições de modificar esse quadro.
É preciso ter em mente que desde o advento da reeleição se consolidou um padrão de forte represamento de gastos nos dois primeiros anos de gestão seguido de um período em que os investimentos começam a aparecer. É provável que o atual prefeito também siga esse caminho, embora dele se espere mais imaginação para administrar recursos escassos e menos irresponsabilidade no momento de gastar.

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