São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

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ELIANE CANTANHÊDE

"Bar agradável"

BRASÍLIA - Lula embarca hoje para a África enquanto o Campo Majoritário do PT tenta conciliar o discurso do passado com a prática do governo no presente. E o Romero Jucá e o Henrique Meirelles, como ficam?
Nada contra o argumento de que não se fazem governos, maiorias e vitórias (no Congresso e nas urnas) sem alianças. Nada contra, também, a constatação de que o PT teve de recorrer ao liberal Meirelles por falta de opções próprias para o Banco Central. São dados da realidade.
Mas isso não significa que Jucá possa dar entrevistas sem explicar absolutamente nada sobre frangos, empresas, fazendas, empréstimos, garantias falsas e, o que é pior, dívidas não pagas de R$ 16 milhões com o Banco da Amazônia, que é público.
Meirelles nem isso faz. Em vez de dar entrevistas, esgueira-se pelas portas dos fundos para não enfrentar jornalistas nem as perguntas dos cidadãos. Quem não deve não teme.
No PMDB, o líder Ney Suassuna e os demais senadores batem pé firme na indicação de Jucá, feita por obra e graça do presidente do Senado, Renan Calheiros. No PT, o único a pedir uma explicação convincente de Jucá foi o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, que não pára de apanhar por causa disso. E o governo, mudo estava, mudo continua.
Jucá lançou um pacote contra fraudes na Previdência e se tornou ao mesmo tempo devedor do Estado e cobrador em nome do Estado. Meirelles, guardião da moeda nacional, é, simultaneamente, acusado de irregularidades financeiras e responsável pela regularidade financeira.
A situação poderia ser apenas constrangedora, mas envolve somas enormes, valores e símbolos. É como o último bastião que se vai, a derradeira esperança de que algo poderia ser diferente. Não é. Será algum dia?
Espera-se que Lula mande sinais de fumaça da África sobre ambos. E que, no Rio, a tendência do PT que abriga Dirceu, Palocci e Genoino diga alguma coisa, qualquer coisa.

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