|
Próximo Texto | Índice
INTERVENÇÃO NO CENTRO
O projeto de revitalização do
bairro da Luz pode representar
um significativo avanço urbanístico
para São Paulo. A ser encaminhado à
Câmara Municipal nos próximos
dias, prevê a desapropriação de uma
área de 105 mil metros quadrados e
incentivos fiscais às empresas que se
instalarem no local. As medidas determinam, entre outros benefícios, a
redução de 50% do IPTU e a diminuição de até 60% do ISS por um prazo
máximo de cinco anos.
Dividida em lotes setorizados, a
área, também chamada de "cracolândia", deve receber lojas de departamento, supermercados, creches,
escolas, além de empreendimentos
voltados para a habitação. Pretende-se atrair para o bairro investimentos
e mão-de-obra qualificada, elementos determinantes para que os moradores voltem à região. Lembre-se, a
esse propósito, que os dez distritos
da área central perderam 250 mil residentes entre 1980 e 2000.
A prefeitura espera obter R$ 100
milhões de investimento por parte de
empresas interessadas em se instalar
no local e aplicar outros R$ 50 milhões, oriundos dos cofres públicos,
em obras de infra-estrutura, como
áreas verdes, calçadas e iluminação.
Há dúvidas, contudo, acerca dos
moldes do processo de desapropriação. Segundo o modelo proposto, as
empresas vencedoras da licitação devem negociar diretamente com os
proprietários. A estes, porém, não
resta escolha: caso não haja acordo, a
prefeitura estipula o valor, adquire o
lote e transfere-o ao empresário, de
quem passa a ser credora.
As disputas judiciais que podem
advir desse formato -o qual inclui
desapropriação com dinheiro público para fins privados e dá margem à
fixação de valores pouco vantajosos
para os proprietários -são o aspecto mais controverso do projeto.
É preciso ainda que as intervenções
propostas não descaracterizem as
edificações de valor histórico. Diante
da flagrante carência de marcos urbanos na capital paulista, apagar os
poucos que restam equivale a propor
uma revitalização às avessas.
Não resta dúvida de que formular
políticas para conter a degradação do
centro é um imperativo. Espera-se
que a nova administração paulistana
não recue diante das dificuldades e
mantenha o projeto entre as prioridades da agenda municipal.
Próximo Texto: Editoriais: FUGA PARA A FRENTE Índice
|