São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2006

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FUGA PARA A FRENTE

Um dos clássicos da política brasileira é transferir ao futuro governo problemas financeiros do presente. O pacote federal de medidas que pretende auxiliar agricultores em dificuldade é apenas o mais recente exemplo dessa mania. Na melhor das hipóteses, ele apenas adiará por mais um ano a decisão sobre o que fazer com um rombo de R$ 30 bilhões que, se estourar, vai onerar mais uma vez o contribuinte.
Enquanto alguns dos principais analistas mundiais vislumbram o Brasil cada vez mais como uma espécie de celeiro do planeta -pelo seu enorme potencial agropastoril-, parte significativa da produção nacional continua assentada em pilares financeiros frágeis e quase sempre gravosos ao erário. O dinamismo brasileiro nesse setor não tem sido acompanhado -ao menos não no mesmo passo- pela modernização na arquitetura dos negócios.
Roberto Rodrigues, o ministro da Agricultura do governo Luiz Inácio Lula da Silva, pouco conseguiu fazer para expandir os mecanismos de seguro de safra no país. Outros instrumentos de securitização, como o mercado de futuros, são pouco utilizados. Também por isso, os custos da estiagem de 2005 estão sendo transferidos para a frente e ameaçam tornar-se mais um ônus fiscal.
Por conta dessa atitude paternalista do Estado, pressionam-se os cofres públicos para que cubram os prejuízos advindos de decisões erradas dos próprios agricultores. Investiram demais em terras e máquinas agrícolas, na expectativa de um aumento de demanda que, ao final, se frustrou. Correram um risco típico de qualquer capitalista, mas pretendem agora "socializar" os prejuízos.
É tanta a confusão entre público e privado aqui que o simples esclarecimento dos custos que cabem ao governo -acompanhado de um plano para aumentar paulatinamente a participação dos mecanismos de mercado- já seria um avanço.


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