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FUGA PARA A FRENTE
Um dos clássicos da política
brasileira é transferir ao futuro
governo problemas financeiros do
presente. O pacote federal de medidas que pretende auxiliar agricultores em dificuldade é apenas o mais
recente exemplo dessa mania. Na
melhor das hipóteses, ele apenas
adiará por mais um ano a decisão sobre o que fazer com um rombo de
R$ 30 bilhões que, se estourar, vai
onerar mais uma vez o contribuinte.
Enquanto alguns dos principais
analistas mundiais vislumbram o
Brasil cada vez mais como uma espécie de celeiro do planeta -pelo seu
enorme potencial agropastoril-,
parte significativa da produção nacional continua assentada em pilares
financeiros frágeis e quase sempre
gravosos ao erário. O dinamismo
brasileiro nesse setor não tem sido
acompanhado -ao menos não no
mesmo passo- pela modernização
na arquitetura dos negócios.
Roberto Rodrigues, o ministro da
Agricultura do governo Luiz Inácio
Lula da Silva, pouco conseguiu fazer
para expandir os mecanismos de seguro de safra no país. Outros instrumentos de securitização, como o
mercado de futuros, são pouco utilizados. Também por isso, os custos
da estiagem de 2005 estão sendo
transferidos para a frente e ameaçam
tornar-se mais um ônus fiscal.
Por conta dessa atitude paternalista
do Estado, pressionam-se os cofres
públicos para que cubram os prejuízos advindos de decisões erradas dos
próprios agricultores. Investiram demais em terras e máquinas agrícolas,
na expectativa de um aumento de demanda que, ao final, se frustrou.
Correram um risco típico de qualquer capitalista, mas pretendem agora "socializar" os prejuízos.
É tanta a confusão entre público e
privado aqui que o simples esclarecimento dos custos que cabem ao governo -acompanhado de um plano
para aumentar paulatinamente a
participação dos mecanismos de
mercado- já seria um avanço.
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