São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Senso de oportunidade juvenil MARCIO POCHMANN
O jovem representa uma possível
ligação do presente com o futuro
de um país. Mas, no Brasil, a juventude
vem sendo, lamentavelmente, identificada cada vez mais como um problema.
Por isso, torna-se fundamental o país inovar em termos das políticas públicas, introduzindo a oportunidade de o jovem de baixa renda elevar sua escolaridade, mesmo que na condição de desempregado. Ao ter acesso a uma bolsa temporária que substitua a renda do trabalho, o jovem pode postergar o seu (re)ingresso no mercado, preparando-se mais e melhor para ocupar as vagas de trabalho decentes e de maior remuneração. Sem isso, mesmo numa situação de possível pleno emprego, os jovens filhos de pobres continuariam a ingressar no mercado de trabalho muito cedo e com baixa escolaridade, ocupando as vagas de menor remuneração. Já os jovens filhos de ricos continuariam a ingressar mais tarde, com maior escolaridade, para ocupar os postos de direção e melhor remuneração. Nesses termos, não há possibilidade de romper com o ciclo da desigualdade e da pobreza no Brasil. Em simultâneo ao benefício de uma garantia temporária de renda, deve caber ao jovem uma capacitação teórica e prática em atividades comunitárias de utilidade coletiva a fim de estimular e fixar valores de solidariedade, protagonismo e pertencimento territorial. A ausência de perspectivas de mobilidade social, aliada à difusão de valores negativos, como individualismo e egoísmo, resulta na explosão da violência no país, uma vez que a participação relativa dos jovens na taxa nacional de homicídios atinge quase 40%. Em oposição a isso, apresenta-se a perspectiva positiva e inovadora aberta pelo Programa Bolsa-Trabalho na cidade de São Paulo, que, ao atender mais de 50 mil jovens até o momento, valoriza a cidadania pela educação e a igualdade de oportunidade como condição necessária à emancipação social, política e econômica. Ao mesmo tempo em que se garante temporariamente uma complementação de ganho para jovens de baixa renda, há uma convergência do protagonismo solidário e do pertencimento cidadão com a aprendizagem de atividades comunitárias de utilidade coletiva. Enfim, tudo isso tem contribuído para o avanço da escolaridade, possibilitando melhora do desempenho no ensino e aprendizagem. O que, além de combater o processo de exclusão social, tem possibilitado a redução das taxas de homicídio na cidade, sobretudo nas regiões mais periféricas. Protege-se, assim, a juventude na sua totalidade -não só o seu futuro, como até mesmo sua vida atual. Marcio Pochmann, 42, economista, professor licenciado do Instituto de Economia da Unicamp, é secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Celso Giglio: Onde mora o desempregado? Índice |
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