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ELIANE CANTANHÊDE
Mau tempo
BRASÍLIA - A política externa,
que foi uma das vitrines do governo
na reeleição de Lula em 2006, já teve dias bem melhores. Alguma coisa desandou, nada está dando liga.
Depois de meses de negociações,
semanas de provocações pela imprensa, várias reuniões, um jantar e
um passeio de trem no Brasil, Lula e
Lugo não chegaram a lugar nenhum. Ministros perderam tempo.
Diplomatas tiveram que recolher
mesa, microfones e caneta da sala
onde seriam assinados os atos bilionários do acordo que não houve. E
recomeça o ritual das negociações,
provocações e reuniões. Sabe-se lá
até quando.
Lugo diz uma coisa, Lula responde outra. Surdo e mudo. Um quer
rever o Tratado de Itaipu para ter
mais dinheiro com a energia da binacional. O outro nega a revisão e
contrapõe com quase US$ 2 bi em
investimentos em infraestrutura,
agricultura e desenvolvimento social. E ninguém se entende. O desgaste é evidente, enquanto Lugo
tenta ser machão com a potência da
região para apagar a mancha de ter
sido machão enquanto bispo.
O fiasco com o Paraguai foi na sequência do cancelamento em cima
da hora da vinda do controvertido
presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que enfrenta problemas
internos pela disputa à reeleição no
dia 12 de junho, e externos, por querer "varrer Israel do mapa" e brincar com foguetes vetados pelo Conselho de Segurança da ONU.
E ambos os fiascos tiveram como
pano de fundo o inexplicável (para
nós, os leigos...) apoio do Brasil a
um egípcio acusado de racismo para a direção geral da Unesco, um órgão bacana da ONU, para o qual
dois brasileiros concorriam: o pesquisador Márcio Barbosa e o senador Cristovam Buarque.
Lembrar essa sequência de tropeços é oportuna, já que hoje chega
a Brasília o chanceler da Coreia do
Norte, Pak Ui-Chun. Se o Irã cria
embaraços para o mundo ocidental,
a Coreia do Norte não fica atrás. Tome diplomacia para não engrossar a
lista de fiascos. 2010 vem aí.
elianec@uol.com.br
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