São Paulo, domingo, 10 de maio de 2009

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EMÍLIO ODEBRECHT

Jovens e natureza

POR VOLTA DE de 1860, o engenheiro Emil Odebrecht, bisavô de meu pai, percorria Santa Catarina demarcando terras para os colonos alemães que chegavam à região.
Ele tinha um hábito: sempre que uma planta, pela beleza, raridade ou utilidade, lhe chamava a atenção, colhia mudas ou sementes e as plantava no terreno de sua casa, na então colônia Blumenau. Hoje, ali há um bonito parque.
Aquele parque me veio à lembrança ao pensar sobre como nossas crianças estão se afastando da natureza e sobre as perdas que isso lhes traz. No passado, através da vida ao ar livre, os jovens desenvolviam serenidade, paciência, capacidade de observação, tenacidade, saúde e vigor físico.
Hoje, meninas e meninos gastam horas a fio diante de TVs e telas de computador. Com isso, têm acesso a um mundo de conhecimento até pouco tempo inimaginável. Mas, me pergunto, quais características estarão desenvolvendo?
A tecnologia da informação é uma conquista da humanidade. Porém a maneira como alguns adolescentes dedicam sua existência aos videogames e à internet só pode lhes ser prejudicial.
Há estudos que demonstram que, com tal conduta, estão mais propensos à obesidade e ao tabagismo. Mas não é só. A personalidade também pode sofrer danos. Ansiedade, hiperatividade, perda de sensibilidade humana igualmente podem acometer os viciados no mundo virtual.
Recente pesquisa apontou que crianças brasileiras gastam perto de 20 horas mensais na internet. Meninos e meninas de 2 a 11 anos já representam quase 11% do total de usuários no país. Não me parece saudável. Por outro lado, bosques como o deixado por Emil Odebrecht são cada vez menos visitados pelos jovens, entretidos que estão com diversões eletrônicas.
Com equilíbrio, o mundo virtual e o mundo real vinculado à natureza podem ser complementares, prevenindo deformações.
Fato grave e pouco notado é que a falta de experiências ao ar livre por parte das crianças poderá fazer com que elas não cuidem do meio ambiente quando adultas. Por que defenderão algo que não conheceram bem? Conhecer a natureza não é tão difícil. Ela está nas montanhas e nas florestas, mas igualmente está em uma rua bem arborizada ou no pátio da escola.
Nós, adultos, somos culpados por esse distanciamento entre os jovens, as árvores, animais e rios, porque estamos permitindo e sendo coniventes.
O prazer de desfrutar a natureza pode ser aprendido, com efeitos diretos sobre o bem-estar físico e mental das novas gerações. Faz todo sentido, portanto, mudarmos de atitude.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nestacoluna.


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