São Paulo, Segunda-feira, 10 de Maio de 1999
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TENSÃO NA BASE DE FHC

A base política do governo Fernando Henrique Cardoso nunca foi exemplo de coesão, como deixou evidente, ao longo do primeiro mandato, uma sucessão de penosas negociações no Congresso. Com a traumática mudança do regime cambial e o subsequente aumento da impopularidade do presidente, ela parece ter entrado, por ora, em crise sistêmica.
O resultado mais visível e politicamente custoso dessa desorganização é a CPI do sistema financeiro. Ela só pôde nascer porque se desencadeou uma disputa entre partidos da base parlamentar para ocupar o espaço deixado por um presidente agora fragilizado. Em poucas ocasiões ficou tão patente que personalidades como Antonio Carlos Magalhães (PFL) e Jader Barbalho (PMDB) dificilmente perdem oportunidade de capitalizar-se com o enfraquecimento da Presidência da República.
Foram necessárias três semanas de erosão na credibilidade do governo federal, pelo flanco do Banco Central e sua desastrada atuação na mudança do câmbio, mas finalmente o Planalto esboçou uma reação. Reuniram-se as principais lideranças, cobraram-se fidelidades e coerência, acordou-se um limite temporal para a duração da CPI -deixando na opinião pública a impressão incômoda de que a Presidência teme o aprofundamento da investigação.
Para efeito externo, as arestas foram aparadas e os projetos eleitorais para 2002, adiados. O retrospecto político sugere que a trégua tem bases frágeis, suspeita reforçada pelo decisão do PFL, em convenção, de apresentar candidato próprio.
ACM não assume sua candidatura, aparentemente desejada por muitos correligionários. Tampouco se permite excluí-la. O governador Mário Covas (PSDB-SP) retira dessa ambiguidade a certeza de que o pefelista sairá candidato, e tratou de apontar o risco de que a sucessão passe a monopolizar a política federal.
Na realidade, os partidos da coalizão sempre puseram seus interesses estratégicos à frente, hábito que só tende a recrudescer com a perspectiva de uma eleição presidencial.


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