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Vermelho de rabo aberto
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Editorial do último
sábado, aqui na Folha, classificou de
"inexplicável" o atraso com que FHC
decidiu mandar a PF investigar o caso
das contas de altos funcionários no
paraíso fiscal de Cayman.
O atraso é mais do que explicável.
Após meses e meses, se houve realmente materialidade para as tais listas divulgadas durante a campanha eleitoral, houve também tempo mais do que
suficiente para destruí-la, alterá-la
ou, em caso de desespero, justificá-la.
Sabemos que o tempo é usado como
parceiro do governo -sempre que há
um escândalo estourando. Foi assim
no caso Sivam, da pasta rosa, da compra de votos para a emenda da reeleição. A tática é aguardar um novo escândalo que fará esquecer o anterior.
No caso das listas de Cayman, tudo
levava a crer que eram forjadas -e
parece que há consenso a respeito. Entretanto, o governo de FHC cria praticamente todas as semanas condições
para suspeitas desse tipo. Como se sucedem velozmente, fica impraticável
rastrear os possíveis indícios.
Além disso, mesmo que não seja
acusado ou suspeito de ladroagem, o
atual esquema de poder é pródigo em
dar provas de leviandade no trato do
dinheiro público.
Temos, no presente momento, os
bancos favorecidos não pelo Banco
Central, mas pelo governo como um
todo. Afinal, ainda que Malan não
compareça à CPI e ache tudo normal,
provavelmente ele sabia do caso em
sua essência. Não o impediu nem o denunciou. A conclusão, qualquer vermelho de rabo aberto pode tirar.
No caso das listas de Cayman, se
houve interessados, eles tiveram tempo para fazer o que funcionários do
Planalto fizeram, pagando com atraso
as viagens de Fernando de Noronha:
limparam a barra.
PS - Não estranhem o "vermelho de
rabo aberto" aí de cima. Tomei conhecimento desse maravilhoso peixe na
carta que ACM publicou na Folha, desancando o Waldir Pires. Deve ser
uma iguaria finíssima.
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