São Paulo, Segunda-feira, 10 de Maio de 1999
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Vermelho de rabo aberto

CARLOS HEITOR CONY


Rio de Janeiro - Editorial do último sábado, aqui na Folha, classificou de "inexplicável" o atraso com que FHC decidiu mandar a PF investigar o caso das contas de altos funcionários no paraíso fiscal de Cayman.
O atraso é mais do que explicável. Após meses e meses, se houve realmente materialidade para as tais listas divulgadas durante a campanha eleitoral, houve também tempo mais do que suficiente para destruí-la, alterá-la ou, em caso de desespero, justificá-la.
Sabemos que o tempo é usado como parceiro do governo -sempre que há um escândalo estourando. Foi assim no caso Sivam, da pasta rosa, da compra de votos para a emenda da reeleição. A tática é aguardar um novo escândalo que fará esquecer o anterior.
No caso das listas de Cayman, tudo levava a crer que eram forjadas -e parece que há consenso a respeito. Entretanto, o governo de FHC cria praticamente todas as semanas condições para suspeitas desse tipo. Como se sucedem velozmente, fica impraticável rastrear os possíveis indícios.
Além disso, mesmo que não seja acusado ou suspeito de ladroagem, o atual esquema de poder é pródigo em dar provas de leviandade no trato do dinheiro público.
Temos, no presente momento, os bancos favorecidos não pelo Banco Central, mas pelo governo como um todo. Afinal, ainda que Malan não compareça à CPI e ache tudo normal, provavelmente ele sabia do caso em sua essência. Não o impediu nem o denunciou. A conclusão, qualquer vermelho de rabo aberto pode tirar.
No caso das listas de Cayman, se houve interessados, eles tiveram tempo para fazer o que funcionários do Planalto fizeram, pagando com atraso as viagens de Fernando de Noronha: limparam a barra.
PS - Não estranhem o "vermelho de rabo aberto" aí de cima. Tomei conhecimento desse maravilhoso peixe na carta que ACM publicou na Folha, desancando o Waldir Pires. Deve ser uma iguaria finíssima.


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