São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 2002

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ECONOMIA FRACA

Voláteis, nervosos, os movimentos do mercado financeiro costumam dominar o noticiário. Mas é evidente que, mais do que nas mesas de operações do mercado financeiro, o drama da economia se desenrola sobretudo no cenário menos agitado, mais "frio", da chamada economia "real": no dia-a-dia das empresas do setor produtivo.
Os sinais recentemente emitidos pela economia real não são positivos. O mais abrangente aparece na pesquisa do IBGE sobre a produção da indústria em maio. A produção revelou debilidade nas várias comparações habitualmente feitas. Teve queda muito forte sobre abril (que havia sido um mês atipicamente favorável) e pequena contração sobre maio de 2001. Mais importante, teve piora o indicador que o próprio IBGE, reconhecendo a irregularidade inerente a suas apurações mensais, considera o mais apropriado para aquilatar a tendência da produção: a média móvel trimestral.
A despeito das oscilações dos dados mensais, desde dezembro esse indicador vinha exibindo altas sucessivas, refletindo a retomada da atividade propiciada pelo relaxamento do racionamento de energia elétrica. Mas em maio ele recuou 0,4%, sobre abril, sinalizando que a produção efetivamente perdeu força.
Mesmo antes da divulgação desses dados, essa percepção já se generalizara. No começo do ano falava-se em expansão do PIB de 2,5%, até 3%. Hoje a projeção média do mercado, segundo o Banco Central, é de 2%.
A turbulência vivida pelo mercado financeiro desde maio contribuiu para a piora das expectativas, pois a incerteza inibe a produção. Mas a perda de dinamismo já não é só algo que se espera: é algo que está em curso.
Com isso, caminha-se para mais um ano de crescimento muito baixo da economia, estendendo a virtual estagnação da renda per capita observada desde 1998. Baixo crescimento que é consequência da fragilidade das contas externas. Baixo crescimento que impede a melhoria das contas públicas, que torna crônicos o desemprego e a violência -e que o próximo presidente terá de encontrar meios de superar.


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