São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 2002

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Não estava no roteiro a queda do ministro da Justiça, Miguel Reale Jr. Para substituir seus assessores que partiram para disputar cargos eletivos, o presidente Fernando Henrique Cardoso optou por uma equipe de perfil mais técnico. Isso, em tese, diminuiria a temperatura no tradicionalmente conflituoso primeiro escalão e permitiria um final de governo mais tranquilo. Mas, se mudou a característica da equipe, parece que a coordenação política do governo continua a falhar.
Não tinha justificativa convincente o pedido de intervenção federal no Espírito Santo, questão que definiu a saída de Reale Jr. A medida -que retiraria do cargo pessoas que foram legitimamente eleitas- parece excessiva como remédio para combater a notória ameaça aos direitos humanos naquele Estado, bem como a infestação do poder público por interesses criminosos. Ainda não foram esgotados todos os expedientes ordinários, como a formação de forças-tarefas e a pressão política sobre os governantes capixabas. Além disso, é inoportuno propor tal medida a três meses de um pleito que pode renovar as principais lideranças políticas do Espírito Santo.
Todas essas ponderações deveriam ter sido realizadas pelo governo antes de o pedido de intervenção ser encaminhado ao procurador-geral da República. Quando o Ministério da Justiça deu parecer favorável à proposta, supunha-se que o presidente da República estivesse de acordo com a decisão, dada a sua importância, e que, portanto, Geraldo Brindeiro formalizaria o pedido no Supremo Tribunal Federal. Mas, na última hora, FHC entrou em acordo com Brindeiro para abortar os trâmites.
É lamentável que, depois de sete anos e meio de governo, desencontros típicos de neófitos no poder causem tamanho embaraço. Faltou sensibilidade política a Reale Jr., talvez ávido por acrescentar uma grande ação em nome dos direitos humanos a seu respeitável currículo de jurista. Mas faltou, sobretudo e mais uma vez, participação convicta do presidente da República desde quando a questão começou a ser discutida.


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