|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DESGASTE GRATUITO
Não estava no roteiro a queda
do ministro da Justiça, Miguel
Reale Jr. Para substituir seus assessores que partiram para disputar cargos eletivos, o presidente Fernando
Henrique Cardoso optou por uma
equipe de perfil mais técnico. Isso,
em tese, diminuiria a temperatura no
tradicionalmente conflituoso primeiro escalão e permitiria um final
de governo mais tranquilo. Mas, se
mudou a característica da equipe, parece que a coordenação política do
governo continua a falhar.
Não tinha justificativa convincente
o pedido de intervenção federal no
Espírito Santo, questão que definiu a
saída de Reale Jr. A medida -que retiraria do cargo pessoas que foram
legitimamente eleitas- parece excessiva como remédio para combater a notória ameaça aos direitos humanos naquele Estado, bem como a
infestação do poder público por interesses criminosos. Ainda não foram
esgotados todos os expedientes ordinários, como a formação de forças-tarefas e a pressão política sobre os
governantes capixabas. Além disso,
é inoportuno propor tal medida a
três meses de um pleito que pode renovar as principais lideranças políticas do Espírito Santo.
Todas essas ponderações deveriam
ter sido realizadas pelo governo antes de o pedido de intervenção ser encaminhado ao procurador-geral da
República. Quando o Ministério da
Justiça deu parecer favorável à proposta, supunha-se que o presidente
da República estivesse de acordo
com a decisão, dada a sua importância, e que, portanto, Geraldo Brindeiro formalizaria o pedido no Supremo Tribunal Federal. Mas, na última
hora, FHC entrou em acordo com
Brindeiro para abortar os trâmites.
É lamentável que, depois de sete
anos e meio de governo, desencontros típicos de neófitos no poder causem tamanho embaraço. Faltou sensibilidade política a Reale Jr., talvez
ávido por acrescentar uma grande
ação em nome dos direitos humanos
a seu respeitável currículo de jurista.
Mas faltou, sobretudo e mais uma
vez, participação convicta do presidente da República desde quando a
questão começou a ser discutida.
Texto Anterior: Editoriais: ECONOMIA FRACA Próximo Texto: Editoriais: SURPRESA BOLIVIANA Índice
|