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TENDÊNCIAS/DEBATES
Crédito de confiança
CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA
Nas últimas semanas, a economia brasileira vem apresentando
fortes turbulências. O dólar disparou, o
risco Brasil subiu e as taxas de juros do
mercado futuro aumentaram. Esse conjunto de más notícias tem ensejado especulações sobre uma inquestionável
deterioração na saúde econômico-financeira do país. Antes de avaliações
apressadas, feitas no calor de números
frios, convém questionar primeiro se há
razões objetivas para a mudança nos indicadores.
Nos últimos meses, houve pouca ou
nenhuma alteração nos fundamentos
econômicos que justifique uma alteração radical na avaliação da economia
brasileira. O desempenho fiscal continua apontando para um superávit primário acima da meta fiscal para o ano
-inclusive, a CPMF foi aprovada sem
interrupção-, o saldo comercial melhorou, o financiamento do balanço de
pagamentos para este ano está equacionado e a trajetória de inflação medida
pelos preços livres está em queda.
Ademais, se o ritmo de recuperação
da atividade não é tão expressivo, espera-se que a economia apresente em
2002 um crescimento semelhante ao registrado no ano passado.
Ou seja, a situação do Brasil está muito distante daquela de alguns países em
dificuldades extremas; alguns inclusive
com interrupção dos pagamentos de
seus compromissos externos. Fosse de
outra forma, o fluxo de investimento direto, o capital de risco, que ingressou no
país nos últimos anos, não teria se mantido em patamares expressivos como
ocorre. Para este ano, a previsão é de
cerca de US$ 18 bilhões em investimentos diretos estrangeiros.
Para ter uma idéia do que pensam
aqueles que investem no setor produtivo, lembro recente declaração do presidente da BDI, a Confederação das Indústrias da Alemanha, Michel Rogowski, durante o Encontro Econômico Brasil-Alemanha, em Hamburgo: "A situação do Brasil é estável e a confiança no
país continua, pois as reformas econômicas estão sendo encaminhadas".
A Alemanha é hoje o motor da economia da União Européia e os interesses
de seus empresários no Brasil são muitos, abrangendo da área farmacêutica
ao setor automotivo. Esses empresários,
que representam a banda saudável do
capital internacional, entendem que os
fundamentos da nossa economia estão
corretos e que o país é viável. Como possuem aqui plantas industriais, geram
empregos e participam do nosso desenvolvimento, conhecem o Brasil real,
aquele que certos analistas de Wall
Street teimam em ignorar.
Há receios quanto à postura fiscal em um novo governo, comprometendo a trajetória da
dívida pública
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Wall Street vê apenas o Brasil das pesquisas eleitorais. É uma visão míope. O
fato de este ou aquele candidato estar liderando pesquisas de opinião não revela antecipadamente o resultado de uma
eleição marcada para daqui a três meses. A posição dos que investem na especulação tem ensejado hipóteses sobre
uma eventual mudança de rumo na política econômica do país. Em especial,
há receios quanto à postura fiscal em
um novo governo, comprometendo a
trajetória da dívida pública.
O problema de ajuste técnico nos fundos de investimento, que exacerbou as
turbulências no início de junho, com
certeza teria implicações menores em
um quadro sem a tensão pré-eleitorial
atual. A reação dos agentes à mudança
de critério apenas explicitou os receios
do mercado quanto ao risco de carregamento dos títulos públicos e de estes
eventualmente não serem honrados em
um novo governo. Esta é a razão da demanda do mercado por títulos de prazos menores, comprometendo o trabalho de alongamento do perfil da dívida
pública.
O exemplo dos alemães, que nos dão
um crédito de confiança e apostam
num Brasil melhor, mostra que eles têm
a exata dimensão do nosso país. Não só
do ponto de vista da nossa economia,
como também da consolidação da nossa democracia, pilar da estabilidade.
Seja qual for o eleito em outubro, ele
terá de respeitar a Constituição, cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal e
respeitar os contratos. Os investidores
alemães estão ensinando aos especuladores, esses verdadeiros corsários da
globalização, que, no Brasil, a lei e a democracia estão acima dos eventuais governantes.
Carlos Eduardo Moreira Ferreira, 62, advogado, deputado federal (PFL-SP), é presidente da
Confederação Nacional da Indústria. Foi presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
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