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São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A diáspora e o medo

LISBOA - Um leitor que mora nos Estados Unidos escreve para reclamar espaço também para os brasileiros residentes naquele país, certamente porque já tratei dos casos dos que foram para o Japão e, ontem, dos que vieram para Portugal.
É uma clara indicação de que a diáspora brasileira enfrenta (e cria) problemas em toda a parte.
Em Portugal, há cerca de 15 mil brasileiros em situação irregular, dos 68 mil que formam a comunidade, de acordo com os números oficiais. Sofrem todo tipo de discriminação, desde invasão de suas casas à noite pela polícia até recusa ao crédito.
Manoel Pereira de Andrade, um dos três coordenadores gerais do Núcleo do PT em Lisboa, suspeita de que o número 16, com o qual se inicia a numeração do "Bilhete de Identidade" de brasileiros plenamente regularizados em Portugal, funcione como senha para recusar crédito.
Ele próprio, professor universitário (agronomia), 12 anos no país, não conseguiu abrir crediário para comprar computador para um ex-sem terra que migrou para Portugal.
Se a suspeita é razoável, a pergunta seguinte inescapável é esta: por que os brasileiros são especialmente discriminados? Pereira de Andrade não tem resposta pronta e acabada, mas desconfia de que brasileiros devam ter um histórico de maus pagadores, o que faz com que o crédito seja recusado aos bons e aos maus.
Mulheres sofrem outro tipo de discriminação. O taxista Pedro Elias vai logo perguntando quando tomo o seu carro: "Sabe o que a maioria das brasileiras vêm fazer em Portugal? Prostituir-se", responde.
Pode não ser verdade, mas não adianta discutir com imagens criadas no imaginário popular. Brasileira e prostituta passaram a ser sinônimo em Portugal (e em outros países da Europa também).
Enfim, são situações de um tempo em que o medo do brasileiro/a vencia a esperança. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava sendo esperado no fim da noite de ontem em Lisboa e vai ouvir histórias desse medo. Será capaz de mudar a história?



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