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CLÓVIS ROSSI
A diáspora e o medo
LISBOA - Um leitor que mora nos Estados Unidos escreve para reclamar
espaço também para os brasileiros
residentes naquele país, certamente
porque já tratei dos casos dos que foram para o Japão e, ontem, dos que
vieram para Portugal.
É uma clara indicação de que a
diáspora brasileira enfrenta (e cria)
problemas em toda a parte.
Em Portugal, há cerca de 15 mil
brasileiros em situação irregular, dos
68 mil que formam a comunidade, de
acordo com os números oficiais. Sofrem todo tipo de discriminação, desde invasão de suas casas à noite pela
polícia até recusa ao crédito.
Manoel Pereira de Andrade, um
dos três coordenadores gerais do Núcleo do PT em Lisboa, suspeita de que
o número 16, com o qual se inicia a
numeração do "Bilhete de Identidade" de brasileiros plenamente regularizados em Portugal, funcione como
senha para recusar crédito.
Ele próprio, professor universitário
(agronomia), 12 anos no país, não
conseguiu abrir crediário para comprar computador para um ex-sem
terra que migrou para Portugal.
Se a suspeita é razoável, a pergunta
seguinte inescapável é esta: por que
os brasileiros são especialmente discriminados? Pereira de Andrade não
tem resposta pronta e acabada, mas
desconfia de que brasileiros devam
ter um histórico de maus pagadores,
o que faz com que o crédito seja recusado aos bons e aos maus.
Mulheres sofrem outro tipo de discriminação. O taxista Pedro Elias vai
logo perguntando quando tomo o seu
carro: "Sabe o que a maioria das brasileiras vêm fazer em Portugal? Prostituir-se", responde.
Pode não ser verdade, mas não
adianta discutir com imagens criadas no imaginário popular. Brasileira e prostituta passaram a ser sinônimo em Portugal (e em outros países
da Europa também).
Enfim, são situações de um tempo
em que o medo do brasileiro/a vencia
a esperança. O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva estava sendo esperado
no fim da noite de ontem em Lisboa e
vai ouvir histórias desse medo. Será
capaz de mudar a história?
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