São Paulo, sábado, 10 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Água no chope da indústria

SÃO PAULO - O brasileiro anda tão ansioso por boas notícias que três dos grandes jornais de ontem, entre eles esta Folha, puxaram para a manchete principal o recorde na produção industrial obtido em maio.
Nada contra. Crescimento é bom e todo mundo gosta, mas convém não sobrevalorizar o resultado. O Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), um dos melhores centros de análises sobre a economia brasileira, em sua carta também de ontem, lembra que o resultado da produção industrial é, de fato, para ser festejado, mas adverte:
"O que é mais relevante para avaliação de desempenho da produção industrial ou de indicadores como o PIB é a variação do índice, e não o seu valor absoluto. Recordes de produção industrial podem não significar muita coisa".
Aí, vem a comparação com sabor amargo: "Em seus dois períodos, o governo anterior quebrou sucessivamente recordes de produção industrial. Foram sete ao todo nos oito anos entre 1995 e 2002".
Nem por isso, houve de fato dinamismo industrial, prossegue a análise feita pelo Iedi.
Sua conclusão: "Com efeito, o crescimento médio da indústria no período, de 2% ao ano, foi pouco mais do que um crescimento vegetativo (o crescimento populacional foi de 1,5% ao ano) e um dos mais baixos na história industrial brasileira".
Sei que é desagradável botar água no chope da comemoração, haverá até leitor que dirá que sou contra o crescimento (da economia ou da indústria). Quem escreve textos opinativos corre esses ricos, porque está inescapavelmente dando sempre a cara para bater.
É preferível esse tipo de críticas, por mais tolas que algumas sejam, do que enganar quem lê, se é que alguém lê, ou omitir informações que são relevantes para que a foto do momento econômico não fique maquiada como as fotos dos candidatos.


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