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CLÓVIS ROSSI
Água no chope da indústria
SÃO PAULO - O brasileiro anda tão ansioso por boas notícias que três dos
grandes jornais de ontem, entre eles
esta Folha, puxaram para a manchete principal o recorde na produção
industrial obtido em maio.
Nada contra. Crescimento é bom e
todo mundo gosta, mas convém não
sobrevalorizar o resultado. O Iedi
(Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), um dos melhores centros de análises sobre a economia brasileira, em sua carta também de ontem, lembra que o resultado da produção industrial é, de fato,
para ser festejado, mas adverte:
"O que é mais relevante para avaliação de desempenho da produção
industrial ou de indicadores como o
PIB é a variação do índice, e não o
seu valor absoluto. Recordes de produção industrial podem não significar muita coisa".
Aí, vem a comparação com sabor
amargo: "Em seus dois períodos, o
governo anterior quebrou sucessivamente recordes de produção industrial. Foram sete ao todo nos oito
anos entre 1995 e 2002".
Nem por isso, houve de fato dinamismo industrial, prossegue a análise feita pelo Iedi.
Sua conclusão: "Com efeito, o crescimento médio da indústria no período, de 2% ao ano, foi pouco mais do
que um crescimento vegetativo (o
crescimento populacional foi de 1,5%
ao ano) e um dos mais baixos na história industrial brasileira".
Sei que é desagradável botar água
no chope da comemoração, haverá
até leitor que dirá que sou contra o
crescimento (da economia ou da indústria). Quem escreve textos opinativos corre esses ricos, porque está
inescapavelmente dando sempre a
cara para bater.
É preferível esse tipo de críticas, por
mais tolas que algumas sejam, do
que enganar quem lê, se é que alguém lê, ou omitir informações que
são relevantes para que a foto do momento econômico não fique maquiada como as fotos dos candidatos.
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