|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
O ritmo do Congresso
BRASÍLIA - É chover no molhado dizer que o Congresso faz menos do que
deve fazer. No primeiro semestre deste ano, deputados e senadores se lambuzaram com a discussão sobre o salário mínimo durante dois meses para acabar aprovando exatamente o
que desejava o Planalto.
A Câmara dos Deputados aprovou
17 leis no semestre. Dessas, nove no
último dia de trabalho real desta semana. Apavorados com a crônica
imagem de inoperância, os congressistas queriam tirar o atraso -muitos estavam com o "drive" alterado
pela liberação de verbas.
É um ritmo tresloucado. Ignora segundas e sextas-feiras. Tudo fica para a última hora. Não há lógica na
ordem das coisas. Aprova-se uma MP
editada por Lula para permitir a propaganda de cigarro em eventos esportivos, mas empurra-se com a barriga a votação de uma emenda constitucional contra o trabalho escravo.
Esses vícios têm várias origens e pouca solução no curto prazo.
Há cinco entraves principais: 1) a
inexistência de cobrança de responsabilidade dos congressistas (a maioria dos eleitores nem se lembra em
quem votou); 2) a frouxidão de regras sobre fidelidade; 3) a má representação dos eleitores (um voto no
Amapá vale muito mais do que um
em São Paulo); 4) o livre uso de MPs
por parte do Poder Executivo, que
atropela os trabalhos do Congresso e,
5) principalmente, o estado de calamidade das leis e exigências estapafúrdias da Constituição, que obrigam
o Congresso a ser um eterno reformador, e quase nunca um formulador.
Não há esperança de melhora no
curto prazo. O país é atrasado e tem
poucos investimentos porque sua instituição democrática mais importante, o Congresso, funciona de maneira
defeituosa -e não porque o PPP (essa bobagem inventada por Mantega
e Palocci) não foi aprovado. Até as
carpas do espelho d'água do Planalto
sabem disso. Aos políticos, convêm
fingir que nada disso é com eles.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Água no chope da indústria Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Como nos velhos tempos Índice
|