São Paulo, Sábado, 10 de Julho de 1999
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PIMENTA NA BASE

Da reforma ministerial que virá, se vier, por ora apenas se ouvem o zumbido da intriga, as bazófias menores e o oráculo da suposta estratégia presidencial, Pimenta da Veiga, ministro das Comunicações. Mas, a não ser que o ministro veja realizado seu desejo de colocar o PMDB para fora do governo, um eventual remanejamento no ministério terá ao menos de resolver o embaraço criado por um coordenador político, Pimenta, que é malquisto por um dos três maiores partidos da coalizão governista.
Vale lembrar que a reforma ministerial é apenas a mais recente desavença do ministro com o PMDB. À Folha, Pimenta disse que não há possibilidade de o governo ficar na dependência da maioria de três quintos no Congresso. Isto é, além de sugerir que o presidente abra mão de aprovar reformas complexas, o ministro Pimenta insinua que é hora de expurgar os peemedebistas.
Mas, ainda antes da ladainha ministerial, Pimenta já se empenhava na refrega com seu colega peemedebista da Justiça, Renan Calheiros. As investidas de Pimenta se tornaram públicas durante o vexame da nomeação do diretor da Polícia Federal. Agora, em meio à teledesordem, reanudaram a crise no governo, pois Pimenta negou publicamente a Calheiros o direito de tomar providências a respeito das falhas das telefônicas.
Não têm sido apenas com o PMDB as rusgas de Pimenta. O ministro discutiu com Antonio Carlos Magalhães a respeito da convocação de Pedro Malan pela CPI dos Bancos.
Por duas vezes pareceu que suas comunicações com o Planalto teriam a mesma qualidade dos interurbanos desta semana, pois declarações suas a respeito das opiniões do presidente foram contestadas pelo porta-voz de Fernando Henrique Cardoso. O Planalto negou que tenha criticado a paralisia do Congresso, como dissera Pimenta, e desautorizou a estratégia de reforma ministerial apresentada por seu coordenador político.
Ministros se batem em público. Alguns deles e seus partidos contestam a autoridade do presidente. O coordenador político é pivô de intrigas e parece em descompasso com o Planalto. Se evitar atritos era o mote da reforma ministerial homeopática que planejava, FHC parece estar livre dessa preocupação, livre para promover uma alteração em regra.


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