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Romaria das Águas
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Está sendo preparada, para o final
do mês de agosto, a 4ª Romaria das
Águas em Minas Gerais. Expressa o
anseio dos que lutam pela vida diante,
especialmente, da ameaça das barragens e da poluição das águas.
Realizaram-se já três romarias
com o mesmo objetivo, a primeira a
25/10/96, à margem do rio São Francisco, em Manga, norte de Minas.
Compareceram 8.000 romeiros. Invocaram Nossa Senhora e são Francisco,
em defesa da vida. A segunda deu-se à
margem do rio Piracicaba, em Nova
Era, vale do Aço, a 29/9/97, com a participação de 5.000 romeiros insistindo
no clamor por justiça. A última, no
ano passado, a 30/8/98, teve lugar no
vale do Jequitinhonha, rogando a
Deus: "Escutai o nosso grito pela vida". Cresceu o número de romeiros
para 15 mil pessoas.
A próxima concentração, a 22/8, está
marcada para o vale do Piranga. Será
na cidade de Ponte Nova. O cartaz é
muito sugestivo e mostra um sítio
plantado, onde se vêem trabalhadores, árvores e animais, com os dizeres:
"Este sonho não pode ser inundado".
Com efeito, a apreensão maior é a de
futuras barragens. Na região do vale
do rio Doce e arredores, estão em estudo 15 projetos de barragens, que poderão deslocar mais de 2.000 famílias.
Nos últimos anos formaram-se grupos que se reúnem várias vezes por semana para discutir seus problemas e
apresentar suas reflexões:
1) A água e a terra são dons de Deus a
todos destinados e que não devem faltar. Deus quer a vida do povo.
2) É necessário zelar pela conservação do meio ambiente e denunciar as
causas da agressão contra as águas e a
terra, como o uso demasiado de agrotóxicos e a poluição dos rios, com detritos perniciosos. Muito se deve
apoiar a iniciativa de vários municípios, montando usinas de reciclagem
de lixo e os esforços para evitar incêndios e destruição das matas.
3) Em relação às barragens, o que
mais aparece nas discussões é o justo
apego à própria terra, à casa onde os
filhos cresceram, às árvores e aos pomares plantados. Os lugares estão repletos de recordação. Imaginemos o
que significa possuir uma casa e de repente ser obrigado a deixar tudo e recomeçar a vida em outro lugar. Existe
razão suficiente para tanto sacrifício?
Esse sofrimento tem acarretado tristeza, desespero e até mortes.
4) Há indenizações que foram justas.
Mas, infelizmente, muitos proprietários não só preferiam continuar onde
estavam, mas ficaram prejudicados na
avaliação de suas terras e plantações.
O mais sério é a separação das famílias, a perda da vizinhança e de amizade.
Hoje vão surgindo organizações populares nas áreas atingidas por barragens. Isso permite que as pessoas contribuam com o próprio discernimento
para obter -de modo pacífico- o
melhor uso da terra e das águas e a
preservação da natureza.
A 4ª Romaria será um momento forte em favor da vida e da esperança. O
desenvolvimento do país requer, além
dos critérios de maior produção, a coragem de conceder prioridade a tudo
que promove a dignidade da pessoa,
da família e dos direitos que daí decorrem.
Mais uma vez, a solução dependerá
não da ganância, mas da vivência da
fraternidade entre os filhos de Deus.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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