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O processo de reforma do Estado brasileiro caminha na direção certa?
SIM
Além da visão circunstancial
CLÁUDIA COSTIN
A reforma do Estado promovida pelo governo federal está, sim, no rumo
certo, e acredito que só a menção a seu
objetivo final já bastaria para justificar
essa afirmativa: garantir ao cidadão
brasileiro respeito e serviços públicos
eficientes e de qualidade. Para avaliar
os avanços conseguidos até o momento, é preciso, antes de tudo, que se olhe
além das preocupações circunstanciais, legítimas, mas sanáveis (como os
transtornos temporários na rede de telefonia), para perceber a dimensão dos
benefícios que começam a advir do
processo de modernização do Estado.
Passos concretos já foram dados nessa direção. Entre eles, o novo modelo
de gestão empreendedora, traçado para acabar com a praxe brasileira de serviços públicos em geral desleixados e
alheios aos interesses do usuário -reflexo de um modelo de Estado historicamente estruturado sobretudo como
empregador, em vez de prestador de
serviços, e que por isso não se preocupava com o estabelecimento de metas
e a cobrança de seu cumprimento.
O plano de ação posto em prática pelo ministro Pedro Parente, do Orçamento e Gestão, tende a mudar radicalmente esse quadro. Todo o plano
plurianual (e, portanto, todo o Orçamento federal) está sendo adequado a
programas com objetivos e indicadores de resultados claramente definidos
e com um gerente responsável por isso
em cada um deles, o que permite cobrar metas e medir o que cada servidor
agrega de valor aos projetos, em nome
da eficiência, da melhoria da qualidade, da racionalidade dos gastos públicos e da profissionalização do servidor, rompendo a relação de tutela que
o Estado tradicionalmente manteve
com ele.
Outro passo decisivo é a retomada
do Programa Nacional de Desburocratização, ao mesmo tempo em que
se implanta uma legislação de proteção ao usuário dos serviços públicos.
Nesse terreno, o governo de São Paulo
foi pioneiro ao instituir, recentemente,
o Sistema de Defesa do Usuário de Serviços Públicos, dotado de mecanismos
que garantem ao cidadão "direito à informação, à qualidade e ao controle
adequado do serviço público".
Há ainda, sem dúvida, um longo caminho a percorrer. Que não se esperem resultados estrondosos a curtíssimo prazo num processo que esbarra,
muitas vezes, na resistência de interesses contrariados, dentro de uma cultura de comportamentos consagrados
na área pública brasileira desde sempre. Para citar um exemplo, a Inglaterra vem promovendo a reforma do Estado já faz 15 anos e ainda não a concluiu. Como aqui, lá também o primeiro-ministro Tony Blair tem apontado
como empecilho maior questões culturais, como a ausência de metas concretas e de oportunidades de aprimoramento profissional nas carreiras públicas.
A modernização exige desempenho
como critério principal. Para isso, é
fundamental treinar, motivar e remunerar de acordo com os padrões de
mercado, como já está acontecendo
nas carreiras que criamos no serviço
público para atender a funções especializadas antes desguarnecidas, nos
quadros médicos do INSS, na área de
fiscalização do Ministério da Agricultura e no comércio exterior. Na Receita, já está em vigor o sistema de remuneração variável conforme o desempenho. Sem dizer que toda admissão no
serviço público só se faz agora mediante concurso e para poucas vagas, o que
possibilita constante oxigenação dos
quadros.
Tenho reiterado que seria injusto
culpar os funcionários pelo medíocre
padrão de qualidade do serviço público no Brasil. É que simplesmente nunca lhes ofereceram motivação adequada nem lhes colocaram objetivos profissionais -situação que estamos procurando inverter ao investir pesadamente na qualificação desses quadros.
Nos últimos quatro anos, treinamos
390 mil dos 509 mil funcionários federais, muitos deles mais de uma vez. Simultaneamente, está em curso o projeto Formar, para dar capacitação e
abrir a possibilidade de crescimento
profissional a mais de 50 mil servidores federais analfabetos ou semi-alfabetizados.
Fica claro -e a sociedade começa a
se dar conta disso- que aumento da
produtividade, e não aumento de gastos, é o caminho para aperfeiçoar o
serviço público no Brasil, mediante o
estabelecimento de programas de metas e de avaliação de resultados, tendo
em mente o atendimento de qualidade
ao cidadão. Esse é um dos pontos capitais da reforma do Estado.
Cláudia Costin, 43, mestre em economia pela Escola
de Administração da Fundação Getúlio Vargas (SP), é
secretária de Estado da Administração e do Patrimônio do Ministério do Orçamento e Gestão.
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