São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Semana da Família

Neste mês de agosto, as comunidades cristãs dedicam-se a refletir sobre as "vocações", isto é, sobre o chamado de Jesus Cristo para que cada discípulo conheça a sua missão na Igreja. Nas comunidades, promovem-se dias de oração para que os jovens encontrem e sigam a própria vocação.
Além do discernimento vocacional, é necessário responder com generosidade ao convite divino. A exemplo de Maria, escolhida para Mãe do Salvador, aprendamos a dizer "sim" ao apelo de Deus e a assumir com alegria a nossa missão. A Mãe de Jesus é, para os discípulos de Cristo, o modelo perfeito de como devemos cumprir com amor o desígnio divino nesta vida.
Neste mês, celebra-se ainda a Semana Nacional da Família (de 10/8 a 18/ 8), uma vez que a maior parte da juventude cristã vai orientando-se para o matrimônio e a vida familiar. No entanto, nos últimos tempos, em nossa sociedade, o vínculo conjugal e a convivência em família têm sofrido profundas alterações e detrimentos, com enorme saldo negativo para os cônjuges e os filhos. O egoísmo parece apoderar-se do coração humano e fechar sempre mais a pessoa em si própria. Segue-se a frustração que nasce da busca sôfrega de prazer e do desperdício das próprias qualidades nas distrações e miragem vazias de sentido. Nada entristece mais a pessoa do que enclausurar-se em si mesma. Quem é feito para amar só poderá realizar-se no dom gratuito de si aos outros. O egoísmo está na raiz da separação conjugal, cada vez mais frequente, e do esfacelamento familiar.
A Semana da Família convida-nos a redescobrir, à luz de Deus e dos valores do Evangelho, a beleza da doação conjugal e da formação de um lar cristão. As situações negativas entre cônjuges e o descaso pelos filhos não devem ofuscar a percepção do desígnio divino que leva o homem e a mulher a se unirem por amor numa entrega generosa e definitiva, abençoada pelo sacramento do matrimônio. Pensemos nos exemplos cotidianos dos que se santificam na reciprocidade do dom de si, sabendo progredir sempre mais na fidelidade e na alegria de fazer o outro feliz. Na vivência desse amor conjugal, os filhos hão de ser ajudados a superarem a atração pelo egoísmo, a se sentirem acolhidos pelos pais e a se abrirem aos outros. É no lar que, desde criança, encontramos afeto, apoio e coragem de viver. Felizes são os que recebem de seus pais e familiares a iniciação à fé e, desde cedo, voltam seu coração para Deus, aprendendo a confiança filial nas dificuldades, a partilha e o perdão fraterno, indispensáveis para vencermos o ódio e as injustiças neste mundo. É a ocasião de pedirmos a Deus que nos ensine a auxiliar os que não receberam desde cedo o aconchego e a ternura de um lar.
Diante de muitas crianças e adolescentes pobres e ricos que não tiveram um ambiente familiar amoroso e sadio, somos todos chamados a perceber essa carência afetiva e até o sofrimento e o abandono em que vivem. Não raro essa situação acarreta um desequilíbrio psíquico e tristeza no íntimo da pessoa. As crianças que nunca tiveram carinho e colo materno ou não conheceram o afeto dos próprios pais precisam ser amadas e receber das comunidades e famílias supletivas o maior interesse e acompanhamento para a descoberta do próprio valor. As pessoas idosas, enfermas ou portadoras de deficiências merecem especial solicitude no seio de suas famílias e nas comunidades. Para sermos capazes de superar nossas deficiências e de oferecer aos outros a prova de amor cristão, procuremos voltar o coração para Deus e renovar o espírito de compreensão no próprio lar. Lembremo-nos de que a família que reza sempre terá força para permanecer unida e ajudar os outros com amor.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.



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