São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

O homem comum

RIO DE JANEIRO - Alguns leitores estranharam ter sido eu um dos poucos -se não o único- cidadãos deste país que gostaram do primeiro debate promovido pela Bandeirantes com os presidenciáveis sob mediação da Márcia Peltier -minha doce amiga.
Estranharam com razão, pois geralmente não gosto de nada, sobretudo de política, de políticos e de assemelhados. Como poderia gostar de um palavrório que todos consideraram sem consistência, policiado por um regulamento da emissora que impedia a naturalidade e até certo ponto um verdadeiro debate?
Não foi do fato em si que gostei, mas dos detalhes que ficaram no subsolo do espetáculo e que foram divulgados, aos poucos, como entorno do encontro entre os quatro, que, no fundo, gostariam de se devorar.
Um exemplo: mal encontrou Garotinho, que, com a mulher, sofrera um acidente no palanque da Cinelândia, Lula o abraçou e perguntou: "Como vai a Rosinha?".
Não sei o que Garotinho respondeu, mas acredito que os dois adversários por um instante esqueceram a condição de antagonistas e se tornaram homens comuns, não necessariamente amigos, mas comuns. Comuns como os leitores, como eu próprio.
Entre Serra, Ciro, Lula e Garotinho, apesar das farpas, das mentiras, das insinuações, da vontade mal escondida de mandar o adversário para os infernos, houve a cordialidade mínima que se espera de homens comuns -e foi na condição de homens comuns que se encontram e se desencontram que apreciei o debate.
Daqui a cinco, dez ou 20 anos, independentemente do vencedor e dos perdedores de agora, eles poderão continuar comuns, estendendo a mão um para o outro, perguntando como vai a saúde, como vai a família.
Moral: não fosse a política, todos poderíamos ser melhores.


Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: O futuro nunca chega para Serra
Próximo Texto: Luciano Mendes de Almeida: Semana da Família
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.