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CARLOS HEITOR CONY
O homem comum
RIO DE JANEIRO - Alguns leitores estranharam ter sido eu um dos poucos
-se não o único- cidadãos deste
país que gostaram do primeiro debate promovido pela Bandeirantes com
os presidenciáveis sob mediação da
Márcia Peltier -minha doce amiga.
Estranharam com razão, pois geralmente não gosto de nada, sobretudo de política, de políticos e de assemelhados. Como poderia gostar de
um palavrório que todos consideraram sem consistência, policiado por
um regulamento da emissora que
impedia a naturalidade e até certo
ponto um verdadeiro debate?
Não foi do fato em si que gostei,
mas dos detalhes que ficaram no subsolo do espetáculo e que foram divulgados, aos poucos, como entorno do
encontro entre os quatro, que, no
fundo, gostariam de se devorar.
Um exemplo: mal encontrou Garotinho, que, com a mulher, sofrera um
acidente no palanque da Cinelândia,
Lula o abraçou e perguntou: "Como
vai a Rosinha?".
Não sei o que Garotinho respondeu,
mas acredito que os dois adversários
por um instante esqueceram a condição de antagonistas e se tornaram
homens comuns, não necessariamente amigos, mas comuns. Comuns como os leitores, como eu próprio.
Entre Serra, Ciro, Lula e Garotinho,
apesar das farpas, das mentiras, das
insinuações, da vontade mal escondida de mandar o adversário para os
infernos, houve a cordialidade mínima que se espera de homens comuns
-e foi na condição de homens comuns que se encontram e se desencontram que apreciei o debate.
Daqui a cinco, dez ou 20 anos, independentemente do vencedor e dos
perdedores de agora, eles poderão
continuar comuns, estendendo a
mão um para o outro, perguntando
como vai a saúde, como vai a família.
Moral: não fosse a política, todos
poderíamos ser melhores.
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