São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2004

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A ARGENTINA E O FMI

A Argentina cumpriu as metas monetárias e fiscais do acordo firmado em setembro do ano passado com o Fundo Monetário Internacional. No entanto o FMI postergou, pelo menos até setembro, a revisão trimestral de seu programa de empréstimos de US$ 13,8 bilhões.
O Fundo, refletindo a posição dos governos dos países ricos, pressiona por uma melhor oferta na renegociação da dívida argentina com os credores privados, estimada em US$ 100 bilhões. O país propôs um desconto de 75% sobre o valor dos títulos. Os credores querem um desconto de 40%. O Fundo deseja também uma compensação aos bancos em razão das perdas ocasionadas pela desvalorização do peso além de auditorias em duas instituições financeiras públicas (os bancos Nación e Provincia) e a renegociação dos contratos firmados com as empresas prestadoras de serviços.
Por sua vez, o Ministério da Economia da Argentina divulgou um documento com severas críticas ao papel do FMI, assinalando as falhas nos prognósticos feitos em relação à economia do país por técnicos da instituição, a falta de apoio ou a oposição aberta às decisões tomadas para debelar a crise e o condicionamento da assistência financeira à realização de negociações "de boa-fé" com os credores. O documento considera contraditório o FMI declarar que não se devem utilizar fundos públicos para resgatar credores privados, "mas, simultaneamente, fazer pressões políticas para apoiar interesses privados e, assim, tentar conseguir que o país devedor apresente uma oferta de reestruturação incompatível com seus recursos".
Ao que consta, a melhor saída para a Argentina seria procurar retornar ao sistema financeiro mundial, mas, diante da gravidade da crise, parece legítimo que o governo procure fazer uso de sua condição de grande devedor para tentar obter maior margem de manobra na definição de suas políticas econômicas, reduzindo a interferência externa bem como a transferência de recursos para o exterior. É nesse contexto que deveria ser entendida essa longa queda-de-braço entre o governo argentino e o FMI.


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