São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Leis sob suspeição

SÃO PAULO - O leitor Eurico Schwinden coloca em discussão um tema que ficou soterrado pelo debate sobre a existência ou não do mensalão, quando já está comprovado que o PT comprou deputados, seja por meio de pagamentos mensais, seja em uma, duas ou três tacadas.
Comprou, como é óbvio, ou para aprovar propostas do governo ou para reforçar a base de sustentação político-eleitoral do presidente da República, com vistas à reeleição.
Schwinden pega como exemplo principal o projeto de cobrança de 11% dos aposentados do serviço público. Diz o leitor:
"FHC tentou aprovar essa emenda cinco vezes. Uma vez passou. O Supremo derrubou. (...) Lula conseguiu na primeira, graças ao seu "exército de mercenários"".
É claro que se trata de uma ilação, na medida em que vai ser praticamente impossível comprovar que o pagamento aos deputados x, y ou z estava vinculado a uma votação específica. Mas é uma ilação de lógica cristalina: taxar os inativos teria toda a cara do governo FHC que, no entanto, penou para aprová-la.
O governo Lula que, ao contrário, deveria historicamente ter pudores para propor essa cobrança, obteve-a de cara. Até festejou-a com o que o leitor chama de "desabafo um tanto sinistro" ("Estou com a alma lavada", declarou Lula, lembra-se?).
Schwinden cita outras leis cuja aprovação pode ter parentesco com a compra de deputados, como a de biossegurança (que ele chama de Lei Monsanto, porque em tese beneficia a multinacional que trabalha com grãos geneticamente modificados), "sem contar as inúmeras medidas provisórias que tanto constrangimento provocavam até nos petistas".
Até aí, os comentários de um leitor que olha além da superfície. Agora, a minha pergunta: já que houve compra de deputados, como fica claro pelas propostas de início de processo de cassação, o que acontece com leis cuja aprovação pode ter entrado no preço da compra?

@ - crossi@uol.com.br


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