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CLÓVIS ROSSI
Leis sob suspeição
SÃO PAULO - O leitor Eurico Schwinden coloca em discussão um tema
que ficou soterrado pelo debate sobre
a existência ou não do mensalão,
quando já está comprovado que o PT
comprou deputados, seja por meio de
pagamentos mensais, seja em uma,
duas ou três tacadas.
Comprou, como é óbvio, ou para
aprovar propostas do governo ou para reforçar a base de sustentação político-eleitoral do presidente da República, com vistas à reeleição.
Schwinden pega como exemplo
principal o projeto de cobrança de
11% dos aposentados do serviço público. Diz o leitor:
"FHC tentou aprovar essa emenda
cinco vezes. Uma vez passou. O Supremo derrubou. (...) Lula conseguiu
na primeira, graças ao seu "exército
de mercenários"".
É claro que se trata de uma ilação,
na medida em que vai ser praticamente impossível comprovar que o
pagamento aos deputados x, y ou z
estava vinculado a uma votação específica. Mas é uma ilação de lógica
cristalina: taxar os inativos teria toda
a cara do governo FHC que, no entanto, penou para aprová-la.
O governo Lula que, ao contrário,
deveria historicamente ter pudores
para propor essa cobrança, obteve-a
de cara. Até festejou-a com o que o
leitor chama de "desabafo um tanto
sinistro" ("Estou com a alma lavada", declarou Lula, lembra-se?).
Schwinden cita outras leis cuja
aprovação pode ter parentesco com a
compra de deputados, como a de
biossegurança (que ele chama de Lei
Monsanto, porque em tese beneficia
a multinacional que trabalha com
grãos geneticamente modificados),
"sem contar as inúmeras medidas
provisórias que tanto constrangimento provocavam até nos petistas".
Até aí, os comentários de um leitor
que olha além da superfície. Agora, a
minha pergunta: já que houve compra de deputados, como fica claro pelas propostas de início de processo de
cassação, o que acontece com leis cuja aprovação pode ter entrado no
preço da compra?
@ - crossi@uol.com.br
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