São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2005

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FERNANDO RODRIGUES

A corrupção "limpinha" do PT

BRASÍLIA - País abúlico, atrasado e de quinta categoria, o Brasil assiste à maior operação abafa de sua história num caso de corrupção federal sistêmica neste caso do mensalão. Vigora como nunca o detestável sofisma criado em Brasília, segundo o qual existiriam dois tipos de políticos:
1) os que precisam de dinheiro para fazer política;
2) os que precisam da política para fazer dinheiro.
É mais fácil o Brasiliense ser campeão brasileiro de futebol neste ano do que alguma alma dentro do Congresso admitir fazer parte da segunda categoria de políticos.
Nessa lógica, montou-se a estratégia de fantasiar de recurso de campanha eleitoral a farra dinheirista promovida por uma parcela do PT.
A saída jurídica brotou e vicejou com a aprovação de um ministro experiente nos meandros da criminalidade e do dinheiro secreto. Os petistas abraçaram a idéia. Conhecem o alto grau de resiliência da bonomia nacional. Fazem em público, sem pudor, a defesa de uma corrupção mais limpinha (sic). Menos suja.
O substituto de Silvio Pereira no PT, o deputado paulista Ricardo Berzoini, fala em "gradação de delitos". Sugere haver diferença entre o receptor de dinheiro sujo para campanha eleitoral e o tomador de recursos para uso próprio. Como se doadores secretos fossem duendes ou fadas, seres idílicos que nunca esperam benefícios em troca de suas bondades.
Essa análise indigente tem ampla guarida no Congresso. Deputados e senadores de quase todos os partidos representados estão relacionados, direta ou indiretamente, com o esquema montado pelo pseudopublicitário Marcos Valério de Souza.
A não ser que apareça uma prova material contundente contra algum figurão da República, o desfecho é certo. Serão cassados alguns pobres coitados, pouquíssimos peixes grandes. E Lula, bem, Lula seguirá dizendo que teremos de engoli-lo.

@ - frodriguesbsb@uol.com.br


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