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Novos ventos
Chineses incluem energia eólica entre prioridades estratégicas, enquanto no Brasil essa alternativa ainda é pouco explorada
UM DITO atribuído ao romano Sêneca afirma
que não existe vento a
favor de quem não sabe a que porto quer chegar. A tirada se aplica bem à ausência de
uma política audaciosa do governo brasileiro para fazer deslanchar as energias alternativas, em
especial a eólica - a eletricidade
gerada pelos ventos.
É o setor energético que mais
cresce no mundo, tendo multiplicado por 15 a capacidade instalada de geração em dez anos.
Dos 121 mil megawatts (MW)
existentes em 2008, 403 MW
(0,3%) estão no Brasil. Os campeões são os EUA (21%), a Alemanha (20%) e a Espanha (14%),
mas a China chegou ao quarto lugar (10%) depois de duplicar a
capacidade entre 2007 e 2008.
A administração Lula, que só
pensa no pré-sal, mal acordou
para o caráter estratégico dessa
corrida. Contemplou a energia
eólica, é verdade, em seu pouco
ambicioso programa de fontes
alternativas (Proinfa).
Sem ele, o país ainda estaria no
patamar de 29 MW (2005), como assinalou o jornal "Valor
Econômico". Mas a capacidade
atual representa menos de dois
milésimos do potencial existente
no território nacional, em particular no Nordeste e no Sul.
A energia dos ventos é cara, já
se sabe, mas os preços estão caindo. Para ganhar escala, necessita
de apoio e incentivos governamentais, como ocorreu com o
Proálcool e como ocorre agora
com os parques eólicos naqueles
países que se decidiram a multiplicá-los, de olho na redução de
gases do efeito estufa emitidos
por termelétricas a carvão, gás e
óleo e na diminuição de sua dependência de petróleo.
A eletricidade das turbinas de
ar também é pouco confiável,
porque os ventos variam muito.
No Brasil, contudo, eles se apresentam mais intensos no período em que escasseiam as chuvas
e se esvaziam os reservatórios
das represas. Tem, portanto, a
vantagem adicional de complementar o sistema hidrelétrico e
aumentar a segurança do fornecimento de energia.
Além do Proinfa, o governo federal criou no BNDES linhas especiais para financiar produção,
exportação e instalação de turbinas, neste último caso gerando
uma capacidade instalada de 300
MW. Há ainda um leilão específico para contratar energia eólica
marcado para novembro, ao qual
se habilitaram 441 projetos, que
totalizam 13,3 mil MW. Uma boa
surpresa, mas é imprevisível
quantos deles se materializarão,
se contratados, como ensina a
experiência do Proinfa.
Compare-se isso com o caso da
China, onde se constroem no
presente seis parques eólicos
com capacidade de 10 mil MW a
20 mil MW -cada um. Além da
energia, o governo do país mais
poluidor do planeta (ao lado dos
EUA) espera gerar com eles demanda doméstica em escala suficiente para impulsionar sua própria indústria, à qual dá clara
preferência nas licitações (já sob
acusações de protecionismo).
Pequim, como se vê, sabe exatamente o que quer: dominar o
bilionário mercado de turbinas
no futuro próximo.
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