São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2004

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A REAÇÃO DE PUTIN

Como era previsível, o governo russo vai elevando o tom da retórica antiterrorista e, presume-se, também da repressão na Tchetchênia. Difícil é imaginar quais possam ser os "novos métodos" que o presidente Vladimir Putin anunciou que usará na república separatista, já dizimada por uma década de guerra repleta de atrocidades de lado a lado. Na segunda fase do conflito, de 1999 até hoje, pereceram 15 mil soldados russos e 50 mil tchetchenos.
No plano da oratória, os sinais de endurecimento são mais do que eloqüentes. Traduzindo para o russo a Doutrina Bush, o general Yuri Baluyevsky, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas russas, afirmou que seu país poderia fazer "ataques preventivos" contra bases de terroristas "em qualquer região do mundo".
Também repetindo o que se verificou nos EUA após o 11 de Setembro, funcionários do governo e legisladores russos falam em adotar medidas que facilitem o combate ao terrorismo. Cogita-se de emitir e exigir licenças de residência e de restringir o direito de viajar dentro da Rússia. O prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov, sugeriu que se impeça o acesso de tchetchenos à capital. Se nos Estados Unidos, com toda a sua tradição de respeito às liberdades civis, vários dispositivos draconianos de segurança foram adotados, no caso russo há razões para temer pela própria manutenção das ainda incipientes instituições democráticas.
Para agravar o quadro, a pressão mundial, em especial da União Européia (UE), que poderia servir de freio aos apetites autocráticos de Putin, dificilmente se materializará. No mundo da "realpolitik" a Rússia não é um país com o qual convenha indispor-se. O Kremlin ainda detém significativo arsenal nuclear e poder de veto na ONU. Além disso, os russos vão se tornando o principal produtor mundial de petróleo. Se eram mínimas as chances de negociações com a Tchetchênia, elas parecem se tornar nulas agora que Putin obtém apoio de Washington em sua campanha para identificar o terrorismo tchetcheno ao da Al Qaeda.


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