São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLAUDIA ANTUNES

Tucanos no país do espelho

RIO DE JANEIRO - Uma experiência interessante proporcionada pelo governo petista é ver os tucanos comportando-se como se estivessem na frente do espelho, onde tanto vêem a própria imagem refletida como, embasbacados com o usufruto do poder pelos adversários políticos, reagem replicando suas táticas.
Uso da máquina pública, derrame de gastos, autoritarismo, ufanismo e até o uso do medo para deter a alternância no poder -todo o repertório de ataque eleitoral peessedebista contra o petismo encontra alvo correspondente nos oito anos da administração tucana no Planalto.
De origem paulista, como o PT, o PSDB era uma agremiação apenas mediana até chegar ao governo. Dois anos depois, na eleição municipal de 1996, foi o partido que mais cresceu em número de prefeituras, de pouco mais de 300 para quase mil. Sérgio Motta, o estrategista, comemorou o resultado convocando o partido à unidade "na construção do projeto de um novo país em torno de FHC".
A retórica soa atual, mas a escala em que fluía sem obstáculos era maior. A euforia em torno do real forte deixava pouco espaço para queixas de derrotados. Estes eram tratados, muito democraticamente, como fracassomaníacos, nefelibatas.
Para os tucanos, a hegemonia de seu novo cosmopolitismo só seria alcançada com o isolamento dos corporativismos e sua substituição por uma sociedade civil pragmática. No aparelho estatal, técnicos supostamente apolíticos deveriam gerenciar a transferência de benesses para os parceiros desse projeto.
Ao olhar hoje sua imagem invertida, os tucanos gostam de lembrar que, a despeito do blablablá sobre herança maldita, os petistas mantiveram suas políticas. Mas isso é ilusionismo. O único programa autêntico do PSDB, o do primeiro mandato, terminou mal. O plano adotado pelo PT foi concebido pelo FMI como contrapartida ao resgate financeiro que sustentou o Real por algum tempo e assegurou a reeleição em 1998.


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: A pressão argentina
Próximo Texto: José Sarney: Rato de luvas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.