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JOSÉ SARNEY
Rato de luvas
Hoje vou entrar no assunto do
Delfim, o mestre dos mestres em
economia. Acabo de ler nos jornais
sobre um assunto complicado, que
não consegui entender completamente: as economíadas, mistura de economia com olimpíada.
Os professores Andrew Bernard, da
Tuck School, e Meghan Busse, da Universidade da Califórnia, construíram
um modelo em que é possível calcular
a previsão das medalhas olímpicas
com base em dados econômicos. Não
sei se é assim, mas uma mistura de
economia com esportes olímpicos leva a indicadores que podem estabelecer uma relação causal entre medalhas e índices econômicos. Poderíamos fazer a seguinte ilação: juros médios levariam a de bronze, exportação, a de prata, e desenvolvimento alto, a de ouro. Desemprego, juros altos, crédito
curto e bolso vazio são fiascos, não
classificam para as finais, desqualificam a equipe. Não sei também se há
semelhança entre modalidades.
Assim é nossa luta com o FMI, bola
para cá, bola para lá. Rato, diretor do
Fundo, avança para cortar, e Palocci
recebe o saque. O FMI assim é voleibol
de areia. Outra coisa é a teoria de concentração de renda e de medalhas. Os
professores afirmam que, em 1904, os
Estados Unidos cresciam e tinham
74% das medalhas. Agora, em 2004,
com Bush e a alta do petróleo, só chegaram a 35%.
De qualquer maneira, essa teoria
não bate com o que acontece no Brasil. Os juros baixaram, a inflação idem,
o desemprego também, o crescimento
voltou com a força de 5%, coisa que
não acontecia havia uma década,
quando patinávamos nos 2%.
E o nosso desempenho, embora não
seja desprezível, não mostra o ouro do
nosso resultado econômico. Chegou o
senhor Rato para ver o nosso queijo e
derramou-se em elogios. Ele chegou
de luvas por causa de uma alergia, e o
Palocci concluiu que não era do Brasil
e acenou em não querer mais acordo
com o Fundo. E receitou antialérgico
genérico, desses que dão mais coceira.
O comentário que restou é o de que
o Fundo não é mais o mesmo: usa luvas, Rato almoça com o presidente e
rasga-se em louvores ao Brasil, acenando em rever as metas para aumentar os investimentos e diminuir o superávit fiscal.
Mas, para voltar ao nosso tema inicial das olimpíadas e da economia, vamos verificar que o modelo que montaram não levou em consideração a
teoria da relatividade, porque, se a
nossa Daiane não tivesse tido a falta de
sorte que teve, colocando seu pezinho
mágico fora daquela linha, poderíamos estar com juros altos e risco 3.000,
mas o Brasil estourava e a teoria viria
abaixo.
E o que não dizer do nosso Ronaldinho, sonâmbulo em Paris, em 1998, e
depois com aquela rótula quebrada e
morrendo de dor?
Verdade seja dita que, com economia ou sem economia, deveríamos investir mais em nossos atletas, estimular academias, recrutar vocações em
todos os segmentos sociais de modo a
sermos uma potência olímpica. Não
só o país do futebol, mas da ginástica
olímpica, da natação, do basquete e
das nossas meninas, que brilharam
tanto no futebol, no vôlei, no judô, no
atletismo e em todas as modalidades.
E, cá para nós, esses professores
americanos não entendem de futebol
nem de olimpíadas, e essas tais de economíadas só o Garrincha entenderia,
perguntando se combinaram com o
adversário.
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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