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Ensino certificado
É bem-vinda a iniciativa da prefeitura paulistana de avaliar professores da rede, mas desempenho deve ter peso na carreira
UM ANO e cinco meses
depois de assumir a
Prefeitura de São Paulo, em meio a uma greve de professores municipais, a
administração Gilberto Kassab
anuncia um plano abrangente
para corrigir algumas deficiências gerenciais flagrantes da
combalida rede de ensino da cidade. No cerne da proposta está a
criação de um sistema de avaliação para detectar falhas no conhecimento dos mestres e partir
delas para orientar cursos de
aperfeiçoamento. É um começo.
Ninguém ignora que a educação oferecida no município se caracteriza pela baixa qualidade e
que poderia ser muito melhor,
com as verbas que consome.
Apenas para cursos de reciclagem oferecidos aos 51 mil professores da rede destinam-se R$ 15
milhões a cada ano, mas isso não
tem contribuído para melhorar o
aprendizado de seus alunos.
Na Prova Brasil, exame organizado pelo governo federal, o desempenho de estudantes das escolas municipais da maior e mais
rica cidade do país lhe garantiu
só a 12ª colocação entre capitais.
O ensino provido pelo município
obteve nota vermelha (4,1) no
Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb) criado
pelo MEC, resultado muito pouco acima da média nacional das
escolas municipais (3,4).
Tornar os conteúdos dos cursos de aperfeiçoamento mais
adequados às reais lacunas de conhecimento dos professores parece razão mais que suficiente
para promover tal avaliação. Por
si só, no entanto, ela não terá o
condão de elevar o nível de ensino. É preciso ir além.
O sucesso pedagógico depende
de muitas variáveis simultâneas,
que não se esgotam na qualificação dos professores -e muito
menos na sua remuneração, como parecem considerar os líderes da corporação. Exames como
esses se prestam mais a avaliar o
domínio de conteúdos pelos
mestres e menos a sua destreza
com métodos e recursos pedagógicos, cuja insuficiência também
afeta o processo de aprendizado.
A Prefeitura de São Paulo divulgou que o exame anual será
facultativo no cinco primeiros
anos. Além disso, pesará de maneira restrita na carreira dos docentes: quem participar galgará
mais rapidamente os sete degraus de promoção salarial, independentemente do desempenho
obtido nas provas.
Presume-se que tal limitação,
em princípio incoerente com o
objetivo de aperfeiçoamento pedagógico, decorra de cautela
pragmática diante da reação corporativa usual a toda avaliação.
Mesmo que seja esse o caso, Kassab e seu secretário de Educação,
Alexandre Schneider, deveriam
fixar um prazo para que o resultado do exame passe a funcionar
também como incentivo para a
qualificação individual.
Sem essa contrapartida, e encerrado o período opcional da
prova, a avaliação correria o risco
de converter-se em mais uma
formalidade burocrática, com
pouco potencial para impulsionar de modo decisivo um ciclo
virtuoso de melhoria do ensino.
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