São Paulo, segunda-feira, 10 de setembro de 2007

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Ensino certificado

É bem-vinda a iniciativa da prefeitura paulistana de avaliar professores da rede, mas desempenho deve ter peso na carreira

UM ANO e cinco meses depois de assumir a Prefeitura de São Paulo, em meio a uma greve de professores municipais, a administração Gilberto Kassab anuncia um plano abrangente para corrigir algumas deficiências gerenciais flagrantes da combalida rede de ensino da cidade. No cerne da proposta está a criação de um sistema de avaliação para detectar falhas no conhecimento dos mestres e partir delas para orientar cursos de aperfeiçoamento. É um começo.
Ninguém ignora que a educação oferecida no município se caracteriza pela baixa qualidade e que poderia ser muito melhor, com as verbas que consome. Apenas para cursos de reciclagem oferecidos aos 51 mil professores da rede destinam-se R$ 15 milhões a cada ano, mas isso não tem contribuído para melhorar o aprendizado de seus alunos.
Na Prova Brasil, exame organizado pelo governo federal, o desempenho de estudantes das escolas municipais da maior e mais rica cidade do país lhe garantiu só a 12ª colocação entre capitais. O ensino provido pelo município obteve nota vermelha (4,1) no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) criado pelo MEC, resultado muito pouco acima da média nacional das escolas municipais (3,4).
Tornar os conteúdos dos cursos de aperfeiçoamento mais adequados às reais lacunas de conhecimento dos professores parece razão mais que suficiente para promover tal avaliação. Por si só, no entanto, ela não terá o condão de elevar o nível de ensino. É preciso ir além.
O sucesso pedagógico depende de muitas variáveis simultâneas, que não se esgotam na qualificação dos professores -e muito menos na sua remuneração, como parecem considerar os líderes da corporação. Exames como esses se prestam mais a avaliar o domínio de conteúdos pelos mestres e menos a sua destreza com métodos e recursos pedagógicos, cuja insuficiência também afeta o processo de aprendizado.
A Prefeitura de São Paulo divulgou que o exame anual será facultativo no cinco primeiros anos. Além disso, pesará de maneira restrita na carreira dos docentes: quem participar galgará mais rapidamente os sete degraus de promoção salarial, independentemente do desempenho obtido nas provas.
Presume-se que tal limitação, em princípio incoerente com o objetivo de aperfeiçoamento pedagógico, decorra de cautela pragmática diante da reação corporativa usual a toda avaliação. Mesmo que seja esse o caso, Kassab e seu secretário de Educação, Alexandre Schneider, deveriam fixar um prazo para que o resultado do exame passe a funcionar também como incentivo para a qualificação individual.
Sem essa contrapartida, e encerrado o período opcional da prova, a avaliação correria o risco de converter-se em mais uma formalidade burocrática, com pouco potencial para impulsionar de modo decisivo um ciclo virtuoso de melhoria do ensino.


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