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CARLOS HEITOR CONY
O ovo na galinha
RIO DE JANEIRO - Num romance que teve sua época, Vicente Blasco Ibañez desenvolveu um raciocínio sobre os gastos militares num
país mais ou menos como o Brasil:
forte, poderoso em certo sentido,
mas sem capacidade militar para
um conflito com potência superior.
Em "A Catedral", diz ele a propósito das verbas e equipamentos da
Espanha no tempo em que se passa
a história: "Para tempos de paz, o
dinheiro é muito. Para tempos de
guerra, é pouco".
Bem, há a questão da soberania
nacional, que cada país cultiva a seu
modo. "Se ergues da justiça a clava
forte, verás que um filho teu não foge à luta nem teme quem te adora a
própria morte". É isso aí. Os poloneses defenderam-se dos tanques
alemães com a cavalaria: a guerra
durou menos de um mês. Mas os
patriotas cumpriram sua missão de
defender a pátria.
O Brasil está comprando aviões e
submarinos, uma fatura astronômica, que, parece, será paga com o
petróleo do pré-sal. Para funções de
polícia, os aviões são muitos. Para o
caso de uma guerra com um rival,
são poucos.
Esse é o drama da maioria das nações. É bem verdade que uma guerra nem sempre se decide com a
quantidade e eficiência do armamento, mas com a garra de quem se
defende: o Vietnã foi prova disso.
O lado positivo da recente compra é a tecnologia, que, mais cedo ou
mais tarde, transcende dos equipamentos militares. Além de reaparelhar Marinha e Aeronáutica -motivo de eterna queixa dos militares-,
que ainda utilizam sobras da última
guerra mundial.
Parece que Lula tomou a decisão
da compra sem ouvir o lado técnico
da FAB -o que seria um erro. Fez
média com a França e em especial
fez média com Sarkozy -de quem
se tornou amigo de infância. Quanto ao pré-sal, ainda é um ovo a espera da galinha a cacarejar, anunciando um novo produto.
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