São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

O nome dele

RIO DE JANEIRO - Todos sabem o nome dele. É uma figura exótica por dentro e por fora. Ajudou a eleger deputados com menos de 500 votos, mas a culpa não foi dele, e sim da lei eleitoral, que é retrógrada.
O milhão e meio de eleitores que votaram nele estão sendo xingados, demonizados. Pelo que tenho lido nas folhas e ouvido no rádio e na TV, o Brasil, sem esse milhão e meio de eleitores, seria o paraíso terrestre, viveríamos a idade de ouro cantada por Ovídio e prometida por tantos candidatos politicamente corretos, levados a sério pela mídia.
Bem ou mal, o dr. Enéas é conhecido nacionalmente. Creio que já foi candidato presidencial duas vezes e sabe-se mais ou menos o que ele pensa e como pensa: aos arrancos, como um iluminado. E os outros que foram votados, têm a mesma transparência (boa ou má, não importa)?
Por brincadeira, protesto ou espírito de porco, seja o que for, quem votou nele está na mesma condição dos cultos eleitores que votaram em Lula ou em Serra. Não existe uma fita métrica para medir essas coisas. Há convenções, isso sim, como a da linha do Equador e a da linha média dos times de futebol, que são linha imaginárias.
É evidente que não votei nem votaria no Enéas. Aliás, não votei nas eleições de domingo, porque, em certo sentido, não vejo muita diferença entre o Enéas e os não-Enéas. Sei que ele tem idéias que o vulgo denomina de direita. E daí? FHC foi eleito porque seus eleitores julgavam que ele era de esquerda -e deu no que deu, nem durante o regime militar tivemos uma política econômico-social tão à direita.
Imagino o horror do eleitorado paulista mais esclarecido, os PhD da USP, os empresários da Fiesp, pasmos diante do milhão e meio de eleitores que votaram no Enéas. De duas, uma: ou o Enéas é um iluminado que nos salvará a todos ou é mesmo um louco varrido que, mais cedo ou mais tarde, será varrido de nossa paisagem política.


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