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OTAVIO FRIAS FILHO
Desconstrução
Um dos termos em voga, na crônica destas eleições, é "desconstrução". Tomada da recente filosofia
francesa, a palavra vem sendo usada
para designar a desmontagem, pela
contrapropaganda, de candidaturas
"construídas" pelo marketing de televisão. Convém "desconstruir" também, ao menos em parte, certas conclusões sobre o "recado das urnas".
O caciquismo foi varrido - Verdade
em termos. Não existe dúvida de que
uma leva de políticos tradicionais foi
derrotada. Podemos divisar elementos em comum no perfil dos náufragos. Não custa lembrar, no entanto,
que isso acontece de tempos em tempos. Nova camada de políticos emerge a cada onda dessas, instala-se no
poder, desgasta-se e um dia é varrida
por sua vez.
Existe uma evolução. Métodos mais
brutos de intimidação e de controle
são substituídos por outros, mais sutis. Certos padrões de conduta verbal
desaparecem. A cada renovação, o
político médio torna-se mais informal
e anódino, embora a qualidade de sua
atuação seja quase sempre superior à
de seus precursores.
Em termos de "circulação de elites",
a onda petista talvez só tenha paralelo
histórico na substituição da camada
governante em 1930. O tempo dirá se
a aproximação é tão exagerada como
parece. Diferentemente de 30, no entanto, o processo atual não passa por
um golpe armado, mas por um processo lento, gradual e seguro de osmose sócio-política.
Em caso de vitória de Serra, o cenário vai se desanuviar - Ambas as coisas parecem improváveis. De tão pouco plausível, uma vitória do candidato
tucano irá gerar amplo movimento de
frustração em metade do eleitorado, e
não faltará quem a acuse de fraudulenta. O êxito tornaria ainda mais auto-suficiente uma personalidade que
já o é bastante.
Os chamados mercados no fundo
não preferem A ou B, preferem evidentemente lucros. Com razão, acreditam que um ambiente previsível e
relativamente estável é mais propício
para os negócios. Eleito, Serra enfrentaria uma conjuntura igualmente adversa do ângulo da economia, sem o
respaldo organizado que funcionaria
como contrapeso no caso de Lula.
O establishment vai se aglutinar
contra Lula no segundo turno - Meia
verdade. É certo que a continuidade
tucana seria a predileção da maioria
do empresariado. Lula e o cerne de
seu partido já se comprometeram o
suficiente com o centro, no entanto,
para suscitarem repulsa. A condição
de favorito atrai apoios dessa camada
quase sempre governista.
A base do PT na classe média é ampla e crescente. Os meios de comunicação refletem, em parte, a inclinação
do estrato onde se encontra a sua
clientela. O lobby petista é intenso nos
meios intelectuais, que incluem o ambiente jornalístico. O poder em via de
se tornar dominante é o PT. Depois de
ser estilingue, está na hora de aprender a ser vidraça.
Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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