São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O adeus às certezas

SÃO PAULO - Para o codificador do "Consenso de Washington", John Williamson, seu receituário deu tão certo que até Luiz Inácio Lula da Silva supostamente teria aderido a ele.
"As idéias básicas do que eu tentei resumir no Consenso de Washington continuam a ganhar ampla aceitação. Na verdade, me parece que a razão que levou a Lula a se eleger foi a mudança dele para o centro, endossando essencialmente as políticas sobre as quais estamos falando", afirmou o economista em seminário em Washington, dia 6, conforme o relato de Cristiano Romero, correspondente do jornal "Valor Econômico".
Bobagem. Lula, além de ter sido crítico do "Consenso", elegeu-se pelo desejo de mudanças, não devido à sua viagem ao centro.
E o que há para mudar é, exatamente, o receituário compilado por Williamson, com ênfase para privatizações, liberalização da economia, redução do papel do Estado.
Passemos agora ao que disse Paul Krugman (Princeton) na bela entrevista que fez Érica Fraga, desta Folha, publicada na sexta-feira:
"As reformas (ditadas pelo "Consenso') foram sobrevalorizadas. Acredito que os países da América Latina, pela forma como as propostas foram vendidas, acharam que receberiam um pacote completo, do tipo: "nós receberemos dinheiro, vamos abrir nossos mercados e tudo vai ser maravilhoso"."
Não foi bem assim. Se o leitor me permite umas linhas de cabotinismo, o que Krugman está dizendo foi repetido à exaustão na quase solidão deste espaço, durante a década de forte hegemonia do pensamento único cristalizado no "Consenso".
O diabo é que Krugman admite não ter "uma resposta fácil" para curar a frustração provocada pela implementação do "Consenso".
É por isso que sobra espaço para Williamson achar que a solução é mais reformas liberais, não menos. Convidam-se os partidos políticos brasileiros a entrar nesse debate. Acabou a era das certezas.



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