São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

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Brasil esperança

AUGUSTO MARZAGÃO



Creio que nosso futuro próximo terá a marca do realismo e da humanidade, virtudes que andam juntas

Ao longo da vida tenho alimentado, com persistência, a esperança em um amanhã sempre melhor do que o dia de hoje e o de ontem. E minha esperança, felizmente, sempre encontrou a correspondência dos fatos.
Por ter sempre acreditado em pertencer a um país de vencedores, não canso de confiar em tempos ainda melhores, que preparamos agora, dedicadamente, para os nossos filhos e todos os filhos do Brasil. Mais tarde eles poderão lançar as vistas sobre o passado e dizer, com reconhecimento e senso de responsabilidade: "Alguém zelou por nós. É a nossa vez de zelar pelos que virão".
Esse sentimento me transmite a plena segurança de que estamos caminhando para mais uma etapa de afirmação do grande projeto nacional, que, da forma mais democrática possível, vem sendo elaborado e executado com a participação cada vez mais ampla e consciente da comunidade brasileira.
A proximidade e a velocidade dos acontecimentos que se sucedem, gerando a aparente cacofonia dos noticiários, tendem a nos induzir à impressão de que muita coisa vai mal, de que a crise prevalece sobre a normalidade. Entretanto a experiência do testemunho histórico e o distanciamento crítico nos indicam a direção oposta: na verdade, tudo marcha e converge para a renovação aprimoradora. São misteriosos os desígnios de Deus. Fazem-se às vezes sinuosos, aparentemente erráticos, os caminhos de um povo rumo ao seu próprio destino. Todavia um povo amadurecido na sua consciência política, fortalecido na sua vinculação com a pátria, jamais se perde no seguimento da trajetória que merecidamente lhe cabe.
O que na realidade brasileira parece fluido e inconsistente, a certos juízos, na minha compreensão aponta para a emergência de um Brasil mais sábio. Neste país a céu aberto todos se manifestam, todos dialogam, todos opinam, há um cenário geral de discussão livre e ruidosa, porém no fundo predomina a busca de posições negociadas, consensuais, ainda que não definitivas.
Nos múltiplos aspectos da vida nacional, quando temos a paz social assegurada pela legalidade democrática, as demonstrações de mobilidade, de mudança constante de julgamentos e expectativas, constituem a evidência mesma de que estamos realizando a dinâmica da criatividade e do avanço. Ou seja, estamos indo ao encontro do Brasil sonhado pelos patrióticos visionários de todos os tempos -uma terra generosa, uma nação livre e próspera, um povo fraterno, solidário e digno de ser feliz.
A mim me bastam as razões mencionadas para crer que as metas buscadas em meio a incertezas, equívocos e hesitações serão alcançadas com segurança e tranquilidade, à luz do desarmamento dos espíritos.
Creio, firmemente, que as polêmicas, os desencontros e as divergências verificados nos espaços da atividade política e econômica foram movimentos necessários de ajuste e reacomodação, supervenientes a importantes decisões de mudança estrutural voltadas para a modernização do Estado e da sociedade, e que deveremos colher fartamente os frutos dessa semeadura.
Creio que a sociedade, em sintonia com o poder público, saberá descobrir as saídas e os remédios para graves problemas dos nossos dias, como a violência, o desemprego, as carências do ensino básico, o déficit de moradias, a precariedade dos serviços de saúde pública e outras dramáticas urgências sociais.
Creio que o Estado, ausentando-se de assuntos que a iniciativa privada pode administrar, estará muito mais presente no exercício de suas missões precípuas, intransferíveis, dedicando-se na medida desejável a integrar os excluídos na comunidade que se quer civilizada e humanista, a proteger os desamparados, a dar condições de revigoramento aos fracos, a salvar os esquecidos do destino ou da sensibilidade coletiva.
Creio que nosso futuro próximo terá a marca do realismo e da humanidade, virtudes que invariavelmente andam juntas: realismo, para reconhecermos as nossas limitações e efetivas possibilidades; humildade, para renunciarmos a qualquer espécie de soberba, de cega arrogância, deixando de pensar, como noutras épocas, que a construção de um país pode ser façanha de um punhado de homens, e não esforço de uma sociedade inteira, unida pelos laços multiplicadores da solidariedade nacional.
Creio que nosso povo trabalhador, confiante na sua própria força, saberá transformar as dificuldades e os sofrimentos passados em sólidos alicerces, em que haverá de erigir novos pilares do progresso e do bem-estar dos brasileiros. Assim seja o Brasil esperança!


Augusto Marzagão, 70, jornalista, é autor do livro "Memorial do Presente" (Nova Fronteira). Foi secretário da Comunicação Institucional da Presidência da República (governo Itamar Franco) e secretário particular dos presidentes Jânio Quadros e José Sarney.
@ - cecifrei@unisys.com.br



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