São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Novo governo, novas energias
RICARDO ARNT
O Brasil tem ventos fortes e regulares no Nordeste e no Rio Grande do Sul, com médias anuais de velocidade de 8 m/s a 9 m/s. Os alemães vibram com ventos de 6 m/s. A Aneel já autorizou a implantação de 58 centrais eólicas. Há 26 em tramitação. Por sua vez, as minihidrelétricas de até 30 MW/h de geração podem ser construídas em tempo recorde e inundam menos área. A Companhia Cataguazes Leopoldina acaba de construir a de Benjamim Mário Baptista, em Minas Gerais, em 362 dias. Em dois anos, 40 pequenas centrais hidrelétricas podem agregar 850 MW/h. A Eletrobrás inventariou oportunidades de empreendimentos que incorporariam mais 9.800 MW/h à rede. O grande entrave, paradoxalmente, é a legislação ambiental, lenta e burocrática. O problema é que as energias renováveis custam mais caro do que a energia "velha" de hidrelétricas amortizadas (e subsidiadas) há 20 anos. Desde abril a Aneel delibera sobre o preço que a Eletrobrás deverá pagar aos produtores dessas energias, sem chegar a uma decisão -tarefa que ficará para o próximo governo. Esse valor pode deflagrar, adiar ou distorcer a expansão do setor. Quase todos os países europeus subsidiaram a decolagem das energias renováveis. O custo tende a cair com o uso. Só que o Brasil, neste momento, carece tanto de recursos quanto precisa de mais energia. Investir em hidrelétricas convencionais que ofereçam melhor relação entre custo e benefício pode ser mais conveniente. A indefinição já está gerando efeitos perversos. Há dois anos era praticamente impossível fechar um contrato de compra e venda de energia de biomassa. Mas as vantagens do negócio e a demanda a longo prazo induziram as usinas de cana-de-açúcar e as distribuidoras a reduzir as expectativas e a chegarem a um acordo. Hoje, distribuidoras como a CPFL e a Elektro estão comprando ativamente energia de co-geração, mas pagando preços mais baixos do que os preços especulados em Brasília para o Proinfa. Resultado: vários projetos de modernização de usinas foram suspensos, na expectativa de que o programa garanta melhores preços. Grandes investidores em energia eólica também suspenderam projetos. Regulamentar o Proinfa é imprescindível. Mas as políticas de subsídios podem ser tão decisivas quanto danosas. Quando o mercado funciona sozinho, as forças econômicas tendem a se acomodar. Às vezes, precisam de um empurrão para funcionar. O xis do problema é que, no Brasil, a intervenção estatal precisa de mais eficiência e autocrítica do que de apologia. Ricardo Arnt, 51, jornalista, é editor da revista "Exame" e autor de "Um Artifício Orgânico: Transição na Amazônia e Ambientalismo". Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Hélio Bicudo e Margarida Genevois: Defesa e proteção dos direitos humanos Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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