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CLÓVIS ROSSI
De filósofos e de profissionais
SÃO PAULO - Uma das boas coisas
das férias é permitir a leitura de textos que fogem algo da imersão no
conjuntural.
Caso, entre outros, de artigo de
Daniel Innerarity, professor de filosofia da Universidade espanhola de
Zaragoza, para "El País".
Trata-se de um manifesto contra
a "irrelevância" da política, já constatada, aqui no Brasil, pelo sociólogo Francisco de Oliveira.
Innerarity começa por descrever
a política de uma maneira que dá a
sensação de que ele acompanhou
de perto as recentes eleições no
Brasil:
"Boa parte do mal-estar que gera
a política se deve precisamente à
impressão que oferece de ser uma
atividade pouco inteligente, de curto alcance, mera tática oportunista,
repetitiva até o fastio, rígida em
seus esquema convencionais e que
só se corrige por cálculo de conveniência", escreve.
Depois, ergue o brado "contra os
administradores oficiais do realismo", para "defender que a política
não é mera administração nem mera adaptação, mas configuração, desenho dos marcos de atuação, adivinhação do futuro".
Continua: "Tem a ver com o inédito e o insólito, magnitudes que
não comparecem em outras profissões muito honradas, mas alheias
às inquietudes que provoca o excesso de incerteza".
Termina dizendo que "quem for
capaz de conceber essa incerteza
como oportunidade verá que a erosão de alguns conceitos tradicionais
torna novamente possível a política
como força de inovação e transformação".
Utópico talvez, mas certamente
bonito, não é?
Pena que uma das coisas ruins
das férias é que, mais cedo que tarde, volta-se à realidade brasileira,
para verificar, de novo, que, aqui,
política não é para filósofos, mas
para profissionais. E você sabe de
que tipo de profissionais estou falando, não é mesmo?
crossi@uol.com.br
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