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Caça ao WikiLeaks
Num ataque à liberdade de expressão, governos e empresas perseguem o site e seu fundador com o intuito de evitar novos vazamentos
Está em curso uma cruzada de
governos e empresas internacionais contra o WikiLeaks. O site,
que existe desde 2007, ganhou fama em meados deste ano ao divulgar um vídeo que mostrava militares norte-americanos fuzilando
iraquianos de um helicóptero.
No dia 28 de novembro, um domingo, sua página na internet iniciou a publicação de 251.288 despachos relativos a 274 representações diplomáticas dos EUA. Os
"cables" revelam a opinião da diplomacia norte-americana sobre
líderes mundiais e trazem à tona
informações inéditas sobre a política internacional.
Entre outras revelações, soube-se que a secretária de Estado Hillary Clinton determinou a espionagem de membros da cúpula das
Nações Unidas e que os Estados
Unidos lançaram mísseis contra o
que seriam alvos da Al Qaeda no
Iêmen, provocando a morte de
200 civis e 40 terroristas.
Os vazamentos causaram fortes
reações de governantes e deflagraram uma caçada ao australiano Julian Assange. Procurado pela
Interpol, sob acusação de supostos crimes sexuais praticados na
Suécia, o fundador do site entregou-se à Justiça britânica na terça.
A perseguição parece relacionada ao intuito de silenciar um novo
meio de divulgar informações que
ganhou uma inesperada projeção
internacional e tornou-se um incômodo para governos de diversos países.
Espécie de caixa postal criada
na rede mundial de computadores
para receber e divulgar documentos secretos, o site WikiLeaks não
é um órgão propriamente jornalístico, embora conte com profissionais da mídia para avaliar o material que recebe e mantenha acordos com veículos impressos - entre os quais o britânico "Guardian", o norte-americano "The
New York Times" e esta Folha,
que tem divulgado os "cables" relativos ao Brasil.
O caráter ambíguo do WikiLeaks, aliado à sua inexistente tradição -não há histórico consolidado de seus valores e comportamentos-, gera desconfiança sobre a possibilidade de o site vir a
colocar em risco a segurança internacional e a vida de pessoas.
Essas incertezas possivelmente
contribuem para as hesitações
que se observam em setores que
deveriam defender com vigor a liberdade de expressão e o direito
da mídia, tradicional ou não, de
divulgar informações reservadas.
Quanto a isso, há jurisprudência nos EUA, onde a Suprema Corte, em 1971, decidiu a favor do jornal "The New York Times" contra
o governo de Richard Nixon, que
determinara censura prévia para
impedir a publicação dos chamados Papéis do Pentágono. O tribunal estabeleceu que o governo não
pode obstar a publicação de notícias que considere lesivas à segurança ou aos objetivos nacionais.
Num mundo em que governos
democráticos inventam mentiras
para invadir países, vazamentos
como os do WikiLeaks prestam
um serviço ao esclarecimento e à
verdade. Se a diplomacia exige sigilo, que seus responsáveis o
mantenham com eficiência.
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